Há meses não vejo meu orkut. O motivo? Quando abro minha página descubro que não existem novidades. Com meus amigos verdadeiros a comunicação é mais rápida pelos meios tradicionais. E aqueles que um dia conheci e que hoje seu perfil no orkut é minha única lembrança seguem sua vida normalmente. O orkut perdeu a graça porque não sou adepta da fofoca on line. Não perco horas do meu dia procurando ativamente fotos indecentes, comentários ambíguos ou xurumelas desesperadas.
Apesar disso, outro dia aproveitei o ócio do domingo para passear pelas minhas comunidades. Me fixei na palavra medo após encontrar um link para “Eu tenho medo do escuro” numa comunidade entitulada “Odeio verão”. (Não me perguntem a relação entre elas.). Dei risada daqueles rostos sorridentes que assumiam perante o mundo o medo do escuro. Que outros medos públicos existiriem? Incontáveis. Medo de elevador, de animais diversos, de avião, de mar, de altura, de uma professora da escola, de que o mundo acabe.
Percebi a falta de um medo. Porém o temor a ele talvez seja ainda maior que a todas estas outras coisas. Uma espécie de medo-tabu – um medo tão grande que faz com que todos evitem até mesmo falar nele. Trata-se de um medo coletivo a uma sociedade secreta composta de membros anônimos, porém onipresentes: a sociedade dos outros.
Eles estão sempre à espreita, buscando qualquer dado que possa denegrir ou prestigiar alguém. E logo após agem prontamente, divulgando a informação obviamente já deturpada pela rigorosa comissão de ética da organização.
É praticamente impossível fugir deste julgamento e porisso as pessoas se submentem. Não sabem onde estão nem quem são, mas os temem. Tem medo do que possam falar e porisso condicionam sua vida de modo a nunca chamar sua atenção. Muitos os consultam antes de tomar decisões cruciais e naturalmente acabam nem sempre tomando o rumo com o qual sonharam.
O império do medo tem proporções assustadoras. É preciso força e coragem para enfrentá-los, mas garanto que vale a pena.Eles controlam nossas vidas. Eles tem poder sobre nossa mente. Tanta audácia não poderia passar impune... mas passa.
Eu mesma me encontro num dilema. Há dias escrevi este texto mas ainda não decidi se o publico ou não. Afinal, sou humana, sinto medo e pensando bem... “o que os outros vão dizer?”
Diálogo - arte no iPhone
Há 14 anos