Todos os anos, no início de maio, a história se repete. Muitas pessoas se aproximam com o único intuito de saber o que quero de presente. Poucos acreditam quando digo que o valor material das coisas não importa e que eu ficaria muito satisfeita com qualquer coisa feita especialmente para mim. Guardo cartões, “presentes” e lembranças que me foram dadas há mais de 15 anos. Estão todas lá, guardadas em três caixas de sapato, aguardando o momento em que uma tataraneta resolva remexer nas coisas velhas escondidas no fundo do armário e encontre algo que considero um pedaço da minha história. As conseqüências disso... Bem... Isso será problema da minha bisneta, afinal a filha será dela e não minha!
De qualquer forma sempre me sinto compelida a dar alguma resposta e tento fazê-lo de forma justa. Não pediria, por exemplo, um carro novo, uma TV 3D ou uma viagem para o Nepal. Porém, já que fui questionada, não custa nada dizer aquilo que realmente preciso.
Uma vez respondi que gostaria de quatro pilhas recarregáveis e, obviamente, recebi uma risada como resposta, seguida de outra pergunta: “tá, sério mesmo, o que tu tá precisando?”. Ué... De onde eu tiraria a idéia de pedir pilhas recarregáveis se não precisasse realmente delas? Seguindo o mesmo tipo de presente, devo agradecer a uma amiga, que acreditou quando pedi um carregador de celular (o meu havia sido comido pelo gato).
Então um dia descobri que quando não se sabe muito bem o que dar a uma mulher se compra um brinco. Brincos são objetos interessantes, não pelo fato de serem usados para adornar o rosto ou complementar um visual, mas porque são comprados em lojas que costumam oferecer uma ampla gama de opções. Desta forma, caso o modelo escolhido não seja do agrado da aniversariante o mesmo pode ser trocado por qualquer item disponível. Os brincos são o novo vale-CD, recurso muito utilizado nos amigos-secretos há alguns anos. Neste dia perdi a esperança de receber qualquer item realmente necessário como presente e comecei a cogitar fazer uma espécie de caixinha para colaboração financeira espontânea que seria colocada na saída da festa (com cadeado, claro, para que não fosse surrupiada pelos bêbados – bastam R$3,00 para comprar uma garrafa plástica de cachaça no boteco da esquina).
Para a minha surpresa este ano as coisas foram bem diferentes. Não sei se minha capacidade de persuasão melhorou substancialmente ou se resolveram satisfazer meus desejos para que eu parasse com essa minha mania de pedir coisas absurdas aos olhos dos demais. De qualquer forma fiquei muito feliz. Ganhei cafeteira, panelas, pratos e um fantástico jogo de chaves de fenda. Incrível! Acreditaram que eu realmente o queria! Obviamente também ganhei roupas e brincos (todos do meu agrado, aliás). Se houve algo especial? Sim, sempre tem algo mais especial. Algo feito com a intenção de me sacanear e denegrir minha imagem perante os demais. Algo que me obrigasse a explicações constrangedoras. Algo friamente pensado. Algo que com certeza ficará guardado para a posteridade. Uma toalha do Luan Santana.