segunda-feira, 30 de maio de 2011

Eu

Presentes de aniversário

             Todos os anos, no início de maio, a história se repete. Muitas pessoas se aproximam com o único intuito de saber o que quero de presente. Poucos acreditam quando digo que o valor material das coisas não importa e que eu ficaria muito satisfeita com qualquer coisa feita especialmente para mim. Guardo cartões, “presentes” e lembranças que me foram dadas há mais de 15 anos. Estão todas lá, guardadas em três caixas de sapato, aguardando o momento em que uma tataraneta resolva remexer nas coisas velhas escondidas no fundo do armário e encontre algo que considero um pedaço da minha história. As conseqüências disso... Bem... Isso será problema da minha bisneta, afinal a filha será dela e não minha!

De qualquer forma sempre me sinto compelida a dar alguma resposta e tento fazê-lo de forma justa. Não pediria, por exemplo, um carro novo, uma TV 3D ou uma viagem para o Nepal. Porém, já que fui questionada, não custa nada dizer aquilo que realmente preciso.

Uma vez respondi que gostaria de quatro pilhas recarregáveis e, obviamente, recebi uma risada como resposta, seguida de outra pergunta: “tá, sério mesmo, o que tu tá precisando?”. Ué... De onde eu tiraria a idéia de pedir pilhas recarregáveis se não precisasse realmente delas? Seguindo o mesmo tipo de presente, devo agradecer a uma amiga, que acreditou quando pedi um carregador de celular (o meu havia sido comido pelo gato).

Então um dia descobri que quando não se sabe muito bem o que dar a uma mulher se compra um brinco. Brincos são objetos interessantes, não pelo fato de serem usados para adornar o rosto ou complementar um visual, mas porque são comprados em lojas que costumam oferecer uma ampla gama de opções. Desta forma, caso o modelo escolhido não seja do agrado da aniversariante o mesmo pode ser trocado por qualquer item disponível. Os brincos são o novo vale-CD, recurso muito utilizado nos amigos-secretos há alguns anos. Neste dia perdi a esperança de receber qualquer item realmente necessário como presente e comecei a cogitar fazer uma espécie de caixinha para colaboração financeira espontânea que seria colocada na saída da festa (com cadeado, claro, para que não fosse surrupiada pelos bêbados – bastam R$3,00 para comprar uma garrafa plástica de cachaça no boteco da esquina).

Para a minha surpresa este ano as coisas foram bem diferentes. Não sei se minha capacidade de persuasão melhorou substancialmente ou se resolveram satisfazer meus desejos para que eu parasse com essa minha mania de pedir coisas absurdas aos olhos dos demais. De qualquer forma fiquei muito feliz. Ganhei cafeteira, panelas, pratos e um fantástico jogo de chaves de fenda. Incrível! Acreditaram que eu realmente o queria! Obviamente também ganhei roupas e brincos (todos do meu agrado, aliás). Se houve algo especial? Sim, sempre tem algo mais especial. Algo feito com a intenção de me sacanear e denegrir minha imagem perante os demais. Algo que me obrigasse a explicações constrangedoras. Algo friamente pensado. Algo que com certeza ficará guardado para a posteridade. Uma toalha do Luan Santana.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Acasos

Ela: 30 e poucos anos, morena, 1,76m, corpo definido a duras penas ao longo de vários anos de academia. desfilava seu corpo escultural usando um maiô azul, com as longas madeixas presas num rabo de cavalo.

Ele: 40 e poucos anos, 1,70m, cabelos castanhos claros já com entradas nas laterais e barriguinha proeminente. Caminhava arrastando os chinelos havaianas pretos, usando uma sunga também preta apertada, salientando ainda mais a barriga de chope.

Ambos se dirigiam à piscina do clube. Melhor dizendo, uma se dirigiria realmente à piscina, o outro passaria reto por ela e se dirigiria à sauna. Mas antes que isso pudesse de fato acontecer, suas vidas se cruzaram por acaso na saída do vestiário.

Ele: Estufou o peito, puxou a barriga para dentro, tentou um sorriso, parou de arrastar os chinelos e subiu na balança, com cara de quem diz; "Preciso checar se a dieta tá fazendo efeito."

Ela: Seguiu seu caminho normalmente, assistiu a cena e pensou: "Ninguém merece... Fez tudo isso só prá me ver de costas..."

domingo, 8 de maio de 2011

Porque presto atenção nas propagandas...

Entrei na loja (uma loja popular muito conhecida e tipicamente localizada no piso térreo dos shoppings, servindo como porta de entrada - e obviamente também de saída - dos mesmos). Ainda não tinha dado sequer 10 passos quando fui abordada por uma daquelas moças de sorriso forçado, roupa chamativa e uma sacola cheia de folhetos e brindes. Neste caso ela tinha em mãos uma garrafa de água mineral.
"Boa tarde, eu posso te oferecer um presente?"
"Ãhn?!?"

Antes que mais algum som saísse da minha boca ela já começou a empurrar uma garrafa de água mineral com um folheto pendurado na direção das minhas mãos. Relutei para pegá-la e isso só piorou a situação (ela começou a tentar enfiar a garrafa no meio dos meus dedos).

"Na verdade quem está oferecendo este brinde é O Giorgio Armani..."

(Nossa! Será que passou pela cabeça dela que eu poderia ter pensado que era ela mesmo quem queria me dar aquele brinde???) Bom, nem pude pensar muita coisa porque ela continuou seu discurso e nestas horas é melhor não interromper. Elas decoram o texto e devem falar em sequência, senão perdem o fio da meada e recomeçam. E escutar tudo outra vez equivale a dar uma cabeçada na parede.

".... se você comprar um vidro deste perfume que como eu já falei é lançamento desta estação, você estará automaticamente contribuindo com 100 litros de água potável..."

(O Giorgio Armani me oferecendo um presente? Velho tarado! Tentando me conquistar com 310mL de água! Ah.. Devo estar confundindo... ela deve estar falando do Jorjarmani da Silva, o segurança do shopping. Sim, porque se fosse a grife, a companhia, a loja ou a casa de alta moda obrigatoriamente o artigo seria definido feminino singular, ou seja, A Giorgio Armani.)

"... e esta campanha está sendo realizada porque ainda existem vários países no mundo que ainda não tem acesso à água potável, por exemplo a África. E comprando este perfume *(nome) você poderá estar ajudando estas pessoas."

(Fiquei tão abismada com as dimensões continentais do país citado que nem tive forças para me irritar com o gerundismo insuportável da frase seguinte...)

Eu precisava sair dali. Já estava nervosa, com vontade de derrubar uma das araras em cima da mulher. Agradeci a água e fui me afastando, mas percebi algo diferente. Um cheiro estranho me perseguia. Assim que cheguei ao estacionamento olhei melhor para o "presente". Havia uma tirinha branca presa na tampa, um daqueles papéis em que se borrifa um pouco do perfume para sentir a fragância. Horrível! Um cheiro forte e insuportável. Rapidamente o arranquei e o joguei na lixeira mais próxima antes que minha enxaqueca começasse.

Deixei a garrafa em cima da minha mesa, mas ainda não tive coragem de abrí-la. Ali diz "água mineral". Nem toda água potável é mineral... Nem toda água mineral é potável... Se estão fazendo uma campanha de doação de água potável, não seria mais adequado mandá-la para a África ao invés de distribuí-la num shopping?

Prestei tanta atenção para identificar os erros e os duplos sentidos, que praticamente decorei o texto. Os erros só fazem sentido no contexto... e o contexto, neste caso, é a campanha, portanto a propaganda foi bem feita. Mas se não fossem os erros eu nem teria assunto ontem à noite...