segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Sem título no momento

          Relutei em admitir o quanto estava envolvida, mas a cada nova descoberta meu coração soluçava. Carlos era a companhia ideal para todos os momentos. Sempre animado, tornava qualquer festa agradável e qualquer conversa com ele me fazia perder o senso do tempo. Estava encantada, sempre havia sonhado com alguém assim. Carlos seria exatamente quem eu sempre procurara, mas era casado.
          No dia em que descobri fiquei arrasada. Jamais desconfiaria que por trás daqueles olhos que pareciam me desejar, havia um quase pai de família. Após o dia em que a esposa de Carlos apareceu na empresa grávida de 8 meses, começei a recusar os constantes convites para cinema, barzinho e jantares a dois.
          Dividida entre meu sentimento e a realidade, passei noites em claro e dias desesperadores. Era impossível não vê-lo em cada esquina, no caminho para o café, no refeitório, no supermercado. De repente ele virara onipresente e sua presença me sufocava. Eu precisava achar uma forma de sair desta tempestade de areia em potencial, mas me parecia tarde demais. Eu não sabia o que fazer, nem por onde começar.
          Se as gurias não tivessem insistido eu jamais teria saído de casa naquele dia. Foram 11 telefonemas, 15 mensagens no celular e duas delas a passar na minha casa e me obrigarem a tomar banho e trocar de roupa. Foi neste dia que conheci o Marcelo.
          Já nem lembro do último homem que me beijou assim com tanta paixão como ele fez naquela noite. Eu podia sentir seu sangue correndo nas veias e o ritmo acelerrado de um coração que parecia grande demais dentro do peito. Sentia seu perfume que me inebriava. Sentia suas mãos deslizando sobre minhas costas e me desliguei do mundo ao nosso redor.
          Nossos olhares haviam se cruzado pouco tempo antes, quando cheguei àquela festa. A banda tocava para uma pista de dança lotada, mas inexplicavelmente fiquei paralisada. Desejei que aquela cena durasse para sempre: ele, recostado no balcão, perfeito em todos os detalhes e olhos que me fitavam. Correspondi àquele olhar e ele se aproximou. Observei seus passos. Eu o desejava desde o primeiro momento que o vi e ele parecia captar e compartilhar meus pensamentos. E então nossos lábios se tocaram e pude sentir a energia fluindo através dos nossos cormpo. Não tive forças para resistir e me entreguei. Desde este momento tudo pareceu fazer sentido: minha vida e meus sonhos enfim se fundiram na realidade mais bela que poderia haver.

TPM

          Percebo que estou na TPM quando saio de casa após 8 horas de um sono plenamente restaurador, vou ao shopping trocar uma blusa que ganhei de Natal e enquanto a vendedora tenta me convencer a levar uma roupa "super na moda" que me faz parecer uma mistura de gnomo com liquinho me dá uma vontade de dizer: "Olha, só porque tu és gorda e achas o máximo esconder teu corpo embaixo dessas coisas, não precisas achar que todo mundo também é assim. Graças a muita ginástica esse não é o meu caso e apesar de ser pelo menos 10 anos mais velha que tu ainda posso usar biquini e shortinho".
          Diante deste sintoma incontestável de TPM, me esforço para manter a calma e antes mesmo de encontrar algo que me interessasse, saio da loja e vou direto para a praça de alimentação. Ao menos desta vez não existirá a dúvida: "chocolate ou sorvete" já que devem estar pelo menos 27 graus, a julgar pelo vestido já grudado na pele suada. Se aqui dentro está assim, imagina lá fora? O ar está quebrado ou estou na menopausa? Socorro.... vou derreter! Ô desgraça ficar em Porto Alegre no verão.
          Aproveito a espera pela comida e dou uma olhada na lateral da sacola. Existe uma luz no fim do túnel: eles têm uma filial. Seria perfeito se eu não tivesse que atravessar toda a cidade. Olho no relógio e faço os cálculos, pensando o que tenho que fazer. Será que dá tempo de fazer tudo e ainda chegar a tempo para a academia? Não, impossível. Terei que abrir mão de alguma coisa. Do trânsito não dá, da academia eu me recuso. Ainda tenho que comprar um vestido pro ano novo. Haja dinheiro; já não bastasse IPVA, IPTU, anuidade do conselho, ainda tenho que comprar um vestido...
          Resolvo sair do shopping e entro no meu carro. É só ligar o ar condicionado no máximo que meu humor começa a melhorar. Ligo o rádio e ao som de Black Eyed Peas começo a manobrar. A tranquilidade dura pouco. Na saída do estacionamento uma pajero me fecha e quase bate. Idiotas, compram carro grande e se acham os donos da rua.
          Começo a sentir umas discretas pontadas na cabeça. Hmm, problema! Repasso com calma todo o meu dia e me certifico de haver tomado a dose adequada de cafeína. Sim, tudo certo... ou não. Se não é abstinência é enxaqueca mesmo... a dor logo vai piorar. Cadê o remédio? Remexo na bolsa com a mão direita à procura da cartela enquanto dirijo com a esquerda e escuto no rádio a porcentagem dos vôos atrasados. Tem gente pior que eu, ao menos não fui privada da minha liberdade de ir e vir. Nem quero imaginar o que seria de mim dentro de uma sala de embarque por mais de 12 horas sem ter o que fazer. Encontro um comprimido de novalgina e engulo com água quente mesmo. Uma sobra que deve estar aqui há dias.
          Terceira perimetral, uma sinaleira a cada 200 metros. No rádio o assunto agora é outro. Falam do lindo dia de sol, da praia cheia, da cidade vazia. E o locutor ainda acrescenta: "Tá todo mundo de férias nesta semana". Todo mundo menos eu, a vendedora gorda e chata da loja e o cara da pajero! A idéia da praia lotada e a lembrança que meus pais também estão lá me irrita e decido que é melhor trocar de estação.
Pagode, outro pagode, rádio evangélica e isso o que é? Nossa, que música estranha! Enfim desligo o rádio e começo a cantarolar umas músicas do Jovanotti. Somente os pedaços que sei de cor, óbvio, porque esqueci de devolver o CD pro carro.
          Ótimo! Ao menos a academia não está lotada, mas seria muito melhor se tivesse hidromassagem ao invés de natação. Coloco o maiô, tomo uma ducha gelada e entro na piscina. Enquanto nado, tento desesperadamente escolher a cor do vestido. Rosa ou branco? Porque será que nos outros 28 dias do mês consigo nadar sem pensar em nada e hoje isso me parece impossível?
          Volto prá casa à noite com a impressão de que não dormi nada e me jogo em frente à televisão, nem tenho vontade de passar os canais porque já sei que não terá nada interessante neste horário. Ao menos tenho uma certeza.... amanhã é outro dia e com certeza não será como este... graças a Deus, isso só dura 24 horas.....

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Fim dos tempos

Hoje tive certeza de que o fim do mundo se aproxima.
Existem coisas que, por definição, não podem ocorrer sem que haja em seguida um cataclisma mundial.

A vivo (conheces?) bloqueou meu celular porque não paguei a fatura que eles esqueceram de me mandar.... Bem legal isso na véspera do natal (ainda se eu fosse testemunha de jeová... mas não, faço parte da imensa maioria da população que adora aproveitar datas ditas religiosas para encher o saco de todo mundo com mensagens desejando sempre a mesma coisa)

Daí recebi aquela mensagem automática insuportável dizendo que não o meu pagamento não consta no sistema e mandando que eu entrasse em contato com aquilo que considero o sistema de tortura ideal, pois a empresa se aproveita da necessidade de outrem para mostrar sua força maligna: o insuportável *8486.

Respirei fundo, passei um café, tomei um prozac, fiz um alongamento básico e liguei, já super feliz por ter a oportunidade de escutar aquela voz fanha proferindo o discurso enfadonho que começa por: "Benvindo a central de atendimento...." OPA....

Foi ai que veio o sinal do apocalipse!

A voz insossa e computadorizada informou que existiria um tal de atendimento via SMS e que todos os meus desejos seriam realizados se eu mandasse uma mensagem de texto para o *1058.

Uau! Eu pensei!

heheheh.... Certo que isso não vai funcionar!

Mas qualquer coisa é melhor do que ficar escutando esses intermináveis menus... e a voz continuava...

disque 1 para x, disque 2 para y

Nada disso... chega... até porque a gente vai digitando esses números e no final sempre tem que esperar 20 minutos até conseguir falar com um dos atendentes, que obviamente se aproveitam do tempo que perdemos escutando menus e escolhendo numeros para tomar café...

Depois ninguém sabe porque a tia do cafezinho é sempre a funcionária homenageada.

Sabe o que?

Vou desligar e mandar esse SMS. Quero só ver o que acontece... hihihii

Afinal, só quero mesmo o código de barras prá por a conta em dia e poder mandar as mensagens de natal.

Mandei, logo em seguida recebi uma resposta.

Oi, meu nome é Ronei e sou um representante vivo, aguarde um momento, por favor, enquanto verifico sua solicitação.

hahahah.... eu disse... ele disse "por favor", é certo que a espera vai longe.

Começei a ler um site e... bip, bip... mensagem

Ué... já? Deve ser a droga do numero do protocolo de atendimento.

Vou olhar...

Nãããããããããããããããooooo

Não posso acreditar no que estou vendo!!!!

O código de barras!

Inacreditável!

Corri na janela, o mundo devia estar desabando... um tsunami se aproximando... um terremoto, sei lá... uma queda na bolsa de valores... não era possível!

Minha resposta assim de forma ágil, vindo de uma companhia telefônica???

Eu devo estar sonhando.

Até que enfim alguém resolveu criar uma forma de comunicação que funciona!

É realmente o fim dos tempos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Vida de estátua

          A vida segue adiente, mas dela sou mera expectadora. Dotada de olhos e ouvidos, mas presa num pedestal de cimento de onde não posso sair. Vejo carros passando, crianças crescendo, famílias se formando enquanto continuo aqui no meio deste jardim. Um gramado num cruzamento de duas ruas movimentadas onde ninguém tem tempo de notar minha existência. As únicas mudanças que sofro são aquelas inevitáveis: pelo tempo, pela chuva e pelos vândalos que aqui se divertem nas noites livres. Sonho com o dia em que sairei do anonimato, o dia em que ao invés de garrafas e seringas verei ao meu redor crianças com balões coloridos, carrinhos de pipoca e apreciadores da arte. Só espero que este dia não demore tanto, porque em breve estarei tão depredada que ninguém mais saberá quem sou.