Marcele passou os olhos rapidamente pelo painel do carro novo da amiga e sentiu um líquido amargo percorrendo o trajeto até sua boca. Nunca havia pensado como ela fazia para comprar tantas coisas caras com o salário de secretária da empresa. Tinha algo estranho em tudo isso: o carro, a roupa provocante, olugar onde iam. E quem seria esse amigo misterioso?
Fez algumas perguntas mas obteve apenas respostas vagas. Em resumo, tratava-se de alguém que Flávia havia conhecido na semana anterior e que não lembrava do nome porque havia sido apresentada a muitas pesoas naquela festa. Era amigo de um amigo dela. Um que Marcele não conhecia. Estava começando a desanimar, mas a amiga insistia que era um bom partido.
Pararam numa esquina movimentada e Marcele olhou para o barzinho onde costumava ir com as suas outras amigas. O lugar estava animado e instintivamente começou a procurar por elas. Tinha tantas boas recordações daquele lugar. Virou-se para Flávia e perguntou o preço do ingresso da festa onde iam, mas ela não sabia. Há alguns anos não pagava, tinha ingressos VIP sempre que queria.
Marcele pela primeira vez ficou aturdida com a resposta. Algo não se encaixava nesta história. Luxo e festas gratuitas. Algo estava errado. Marcele não sabia o que era, mas desconfiou que seria melhor continuar sem saber. "Seja lá o que for, não sei se quero participar". - raciocinou. Voltou-se novamente para a miga e pediu que encostasse o carro.
Desceu ali mesmo, sob o olhar descrente de Flávia, numa rua não muito movimentada. Atravessou a rua pensando onde poderia pegar um táxi. Escutou a voz de Flávia questionando se ela tinha certeza do que estava fazendo, mas nem se deu ao trabalho de resonder. Estava com o celular na mão, tentando falar com suas verdadeiras amigas. Precisava encontrá-las para pedir desculpas pelo que tinha feito e por não ter ouvido seus conselhos. Ninguém atendeu. Pegou um táxi e foi direto ao Dona Xica, ponto de encontro quase obrigatório da turma do trabalho, mas elas não estavam lá.
Estava já indo embora quando escutou seu nome. Não reconheceu a voz, mas começou instintivamente a procurar alguém conhecido. Não foi difícil. algumas pessoas acenaram de uma mesa no centro do bar. Foi até lá agradecendo internamente por não er que retornar tão cedo para casa, mas pensou duas vezes antes de sentar quando viu que seu colega bobo da corte apaixonado fazia parte do grupo. "Só uma cervejinha e vou embora."
Depois de várais cervejas a conversa seguia animada. Marcele nem percebeu o passar das horas. Fábio, radiante com a oportunidade, ofereceu carona e Marcele aceitou. Entrou no gol do colega e balançou a cabeça. Precisava admitir: ele não seria jamais o homem com quem sonhara desde criança, mas há anos não se sentia tão bem na companhia de alguém.
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Há 14 anos