domingo, 23 de outubro de 2011

Trapézio voador!

A primeira vez a gente não esquece!! hahahaha

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Cape town - primeiro relatorio

E com imensa satisfação que vós informo que nossa guia da CVC e grAvataiense, o que permitiu muitas risadas no passeio de hoje (incluído no pacote). Minha mãe achava que seria como foi na Turquia, com guias com bom conhecimento da cultura e da história local, mas não foi bem assim. Ao menos ela não ira conosco a johannesburg!
Na verdade, as coisas começaram a ficar divertidas na fila do checkin em Guarulhos. Um grupo de mulheres na nossa frente estava conversando sobre suas viagens, quando uma delas, empolgada contou:"Ano passado, nessa época a gente foi pra China, foi mto legal, subimos na muralha e visitamos a cidade perdida...". (PERDIDA????? Não seria a cidade proibida?)
Será que depois de visitar a cidade perdida ela nao ficou numa duvida cru-de-li-ca de qual destino escolher neste ano???
Já na sala de embarque, fica a duvida: se o embarque só começa daqui a uma hora, porque já tem fila na frente do portão??? Aguardamos a fila sumir e fomos dos últimos a entrar no avião. Algum tempo depois, pronunciei minhas primeiras palavras em inglês:"do you have some wine, please?" "red wine, please!". E foi assim que provei meu primeiro pinotage.
No rotulo havia um aviso importante:"don't drink and walk on The road. You may be killed." que seja... Nao to na rua, to num avião... Posso e vou beber! 2 garrafas!
Chegamos em cape town e a primeira coisa que aprendi e que jetlag da dor de cabeça de verdade. Logo eu que nem tive soroche, chegar aqui e ser vencida por esse maldito fuso horário... Tive que dormir...
Mas voltemos a Gravataí (hahahA). A guia, anunciando o almoço: Já vou antecipar o menu ate porque com um grupo grande sempre e melhor agilizar, ate para ir mais rápido. (agilizar serve para alguma outra coisa e nao estou sabendo???
Outra expressão que ela adora: vcs todos tem que cumprir o horário ate porque o ANDOR (com o mesmo) da excursão depende disso. Ela usou 3 vezes essa palavra!!! Eu juro que procurei, mas nao havia nenhum andor no onibus, nem com santo, nem sem santo!
Para que ninguém diga que ela nao explicou, aí vai a terceira: "vou repetir novamente o passeio de amanha, pra todo mundo entender como vai funcionar..." (esse nos nao faremos, já tratamos com um guia local!)
Hoje fiz minha primeira foto abraçada num bicho. Nao foi num guepardo como prometido, mas já e alguma coisa... Sentei numa foca, abracei a foca e a alimentei com peixe fresco!!! Um senhor foca!!! Muito legal!
para terminar, comunico que a África do Sul nao e uma maravilha. Mesmo aqui temos problemas bem difíceis para resolver, como por exemplo, o que tivemos no almoço de hoje...
A guia anunciou:"Hj no almoço terá primeiro uma salada e depois, no prato principal tem um problema: nao e como ontem que tinham as 3 opções: carne, frango ou peixe. Nesse restaurante o prato e único! Meia lagosta, camarões e um file de peixe para cada um.
Já pensou se todos os nossos problemas fossem como esse???

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A arte de sentir-se viva

Foi forte. Tão forte quanto o barulho de um trovão numa tempestade, tão forte como as ondas de um mar revolto, mas tão inspirador como o cruzar das pernas num tango. Assim eu sonhei noites de lua cheia e noites escuras, com tua imagem tão viva e  uma realidade tão distante. Persegui este meu sonho sem nem mesmo saber a razão. e assim te conheci e soube que eras real. Cada momento, cada detalhe, cada semelhança dentre tantas diferenças. Insegurança? Não. Certeza.

Respirei fundo mais uma vez, mas foi tão inútil quanto nas últimas tentativas. Dentro do meu peito, meu coração saltava acelerado, seguido pelo ritmo do tremor dos meus dedos. Nenhuma posição parecia confortável. Repassei cada passo e entrei. Senti os olhares na multidão. Desconfiança, curiosidade, entusiasmo, ansiedade.

Encostei as mãos no trapézio e subitamente tudo silenciou. Não havia mais nada além de nós dois. A energia fluia como nunca e eu tive certeza que tudo daria certo. Foi como nos velhos tempos. O ritmo da música como fluido vital. Esse é o momento em que me sinto mais segura. Os minutos em que tudo se resume na alegria de sentir-se viva novamente.


sábado, 25 de junho de 2011

Numa sexta-feira à noite

Camila chegou na hora exata no local onde haviam combinado. Era um edifício sem muito luxo numa rua tranqüila, onde um pequeno jardim enfeitava o trajeto entre as grades e a porta de entrada. Atravessou o hall e se postou em frente ao grande espelho. "Porque será que meu cabelo está sempre desajeitado?"


Naquele dia em especial estava irritada. Não se sabe se por cansaço ou se por efeito da TPM, mas era um fato: Camila só não havia brigado com o namorado porque não tinha um. Foi assim, como uma avalanche em formação, que tocou a campainha do apartamento 403 naquela sexta-feira à noite. No fundo não queria estar ali, mas sabia que ver seus amigos lhe faria bem.


Karen e Marcelo haviam retornado da Europa recentemente e suas fotos da viagem estavam sendo projetadas enquanto o jantar não ficava pronto. Amsterdã. Como sentia falta de lá. Os parques, os bares, as praças... e Werner. Eram dele sem dúvida as melhores lembranças, mas a vida seguiu em frente e ela retornou ao Brasil. Camila sentou-se no sofá e suspirou.


Grande parte das pessoas não percebeu, mas Gustavo viu as lágrimas brotando em seus olhos e tentou interferir. “Castanhas?”. Camila se virou lentamente na direção da voz até seus olhos encontrarem os de Gustavo. Verdes como os de Werner... Mas transmitiam uma energia tão oposta à de seu grande amor. “Não, obrigada.”


Werner era capaz de acalmá-la só com o olhar. Com ele Camila sentia-se protegida e amada. Os olhos de Gustavo não eram assim. De alguma forma a perturbavam. Eram tão cheios de vida, de desejos e de paixão que fizeram Camila imaginá-los como um grande caldeirão borbulhante, pronto para explodir a qualquer momento. Não sabia como lidar com isso e mais do que nunca sentiu falta dos braços de Werner para abraçá-la.


Do outro lado da sala, Gustavo, encostado no marco da porta que dava acesso ao corredor, a observava curioso. Para ele, Camila parecia inatingível. Seus olhos verdes, seu grande trunfo com as mulheres, haviam falhado desta vez. Gustavo era um homem comum: não muito alto, magro, de cabelos escuros já com alguns fios grisalhos apesar da pouca idade. Para seus amigos, o que o diferenciava era seu coração de ouro, sua lealdade e sua alegria de viver.


No sofá, a inquietude crescia dentro do peito de Camila. Seus dedos apertavam uma das almofadas de cetim azul com tanta força que poderiam arrebentá-la a qualquer momento. Pensou em voltar para casa, mas este pensamento foi interrompido pela voz de Marcelo: o jantar estava pronto.


Estavam em 12 pessoas: quatro amigos de infância com seus respectivos pares, o casal anfitrião, ela e “o cara de olhos verdes”. Ela estava certa... Haviam feito de propósito... Mas quem seria ele? De onde teria surgido? Tinha certeza de jamais tê-lo visto nas festas do grupo. Não queria e nem precisava passar por tudo isso.


Revoltada, baixou a cabeça e começou a comer. Vez que outra esboçava um sorriso, na tentativa de participar da conversa. Falavam sobre os filhos. Camila jamais havia pensado em ter um. Talvez naqueles dois anos ela não tivesse pensado mesmo em nada, exceto em reencontrar Werner. De qualquer forma, sabia que se tratava de um amor impossível. Depois da promoção não poderia sequer pensar em sair do país sem ser de férias. E ele nunca demonstrou um pingo de vontade de conhecer o Brasil.


No lado oposto da mesa outro rosto pensativo ignorava a discussão, absorto em questionamentos que somente a ele interessavam. Em que estaria pensando a mulher à sua frente? Misteriosa e atraente, assim a havia classificado. Uma combinação inebriante em sua opinião, tornando impossível mudar a direção do seu olhar.


Por um longo tempo permaneceram assim, como se aquele momento pudesse durar uma eternidade. E então, bruscamente, Camila saiu do transe e levantou. Foi até a porta antes de virar-se para se despedir. Queria ter certeza que ninguém bloquearia seu caminho. Com a bolsa no ombro desceu pelo elevador, deixando escapar um suspiro de alívio assim que a porta se fechou.


Gustavo foi mais rápido. Colocou a carteira no bolso e correu os quatro andares escada abaixo chegando ainda a tempo de vê-la sair pelo portão. Gritou seu nome, mas tudo que obteve em troca foi o baque surdo da porta do carro se fechando e novamente o silêncio da rua deserta. Por alguma razão, Camila não ligou o carro imediatamente. Gustavo hesitou e por alguns instantes permaneceu ali, olhando pelo espaço entre as grades. Vencido pelo desejo, atravessou a rua e foi até o carro estacionado alguns metros à frente.


Pelo retrovisor, Camila viu um vulto se aproximando. Suas lágrimas haviam transformado a rua em um amontoado de borrões luminosos. Assustada, girou as chaves e acelerou, sem enxugar os olhos ou olhar para trás.


Gustavo parou, impotente. Não havia conseguido sequer seu telefone e estava cansado dos encontros forçados por seus amigos. Não queria que fosse assim, mas agora dependeria do destino para encontrá-la novamente.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Fim do dia... que agonia

Dona Marieta não titubeou ao ver Rosângela esperando um táxi na esquina e foi logo puxando assunto. Amigas há tanto tempo quanto a memória as permitia recordar, nunca perdem a oportunidade de se vangloriar dos feitos dos netos ou falar mal das vizinhas. “Pois é comadre, aquela dona da casa verde trocou de marido de novo...” “Essas menina de hoje não sabe mais segurá marido não...” “E a Edilene, vai ganhar quando?” “Tá de 5 mês, é menina. Jéssica ou Vitória. Ainda não decidiu.”


Se a conversa das duas fluía solta, o mesmo não acontecia com o tráfego por ali. Dois fiscais de trânsito conferiam suas papeletas enquanto as sinaleiras cumpriam seu papel, coordenando o intenso fluxo de veículos naquele cruzamento bem em frente ao hospital municipal.

Em frente ao sinal vermelho uma longa fila já estava formada. Em cada carro rostos cansados do longo dia de trabalho. No primeiro deles, um corsa branco, Ricardo escutava seu CD preferido enquanto contava os minutos para chegar em casa. Quarenta e dois segundos depois o semáforo abriu. Ricardo engatou a primeira e arrancou. Ato reflexo: Donna Marieta, que até dois segundos antes estava com dificuldades para se despedir, vira-se repentinamente e começa a atravessar a rua sem sequer olhar para os lados. Hipnotizada pela seqüencia de faixas brancas e pretas aos seus pés, não foi capaz de perceber o quanto estava próxima do carro já em movimento.


Ágil, Ricardo pisou fundo no freio, mas sua mão, que rapidamente deslizou até a buzina vacilou. Estava na frente do hospital. A dúvida cresceu em milésimos de segundo. Buzinar ali naquele local e levar uma multa como havia acontecido semanas antes com seu amigo? Ou atropelar a velha e viver o resto dos seus dias com a consciência pesada? Não teve tempo de decidir. Virou rapidamente o volante e passou a menos de 20 centímetros dela. Essa havia sido por pouco.


Dez minutos depois Ricardo entrava no elevador rezando para sua esposa não estar com mais um dos seus desejos gestacionais indecifráveis e irrealizáveis quando foi surpreendido pelo seu próprio reflexo no espelho. Definitivamente uma herança paterna não muito agradável... Seus cabelos estavam desaparecendo com a mesma velocidade que seu pai desaparecera de sua vida anos antes. Infarto fulminante. “Foi stress. – Disse o médico na época.” Era preciso dar um fim nisso tudo.


Entrou em casa. Silêncio. Ótimo. Nem sequer tirou a chave da porta. Pegou papel e caneta, deixou um recado para Mariana e correu para o estádio ainda de terno. Então ele gritou e gritou e gritou... Como se aquele fosse seu time do coração. Noventa minutos depois, com o corpo suado, a roupa amassada e 10kg a menos na cabeça voltou para casa. Neste momento a calvície não importava e dona Marieta sequer existia... Mas de um coisa ele tinha certeza: poderia finalmente ter uma boa noite de sono.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Eu

Presentes de aniversário

             Todos os anos, no início de maio, a história se repete. Muitas pessoas se aproximam com o único intuito de saber o que quero de presente. Poucos acreditam quando digo que o valor material das coisas não importa e que eu ficaria muito satisfeita com qualquer coisa feita especialmente para mim. Guardo cartões, “presentes” e lembranças que me foram dadas há mais de 15 anos. Estão todas lá, guardadas em três caixas de sapato, aguardando o momento em que uma tataraneta resolva remexer nas coisas velhas escondidas no fundo do armário e encontre algo que considero um pedaço da minha história. As conseqüências disso... Bem... Isso será problema da minha bisneta, afinal a filha será dela e não minha!

De qualquer forma sempre me sinto compelida a dar alguma resposta e tento fazê-lo de forma justa. Não pediria, por exemplo, um carro novo, uma TV 3D ou uma viagem para o Nepal. Porém, já que fui questionada, não custa nada dizer aquilo que realmente preciso.

Uma vez respondi que gostaria de quatro pilhas recarregáveis e, obviamente, recebi uma risada como resposta, seguida de outra pergunta: “tá, sério mesmo, o que tu tá precisando?”. Ué... De onde eu tiraria a idéia de pedir pilhas recarregáveis se não precisasse realmente delas? Seguindo o mesmo tipo de presente, devo agradecer a uma amiga, que acreditou quando pedi um carregador de celular (o meu havia sido comido pelo gato).

Então um dia descobri que quando não se sabe muito bem o que dar a uma mulher se compra um brinco. Brincos são objetos interessantes, não pelo fato de serem usados para adornar o rosto ou complementar um visual, mas porque são comprados em lojas que costumam oferecer uma ampla gama de opções. Desta forma, caso o modelo escolhido não seja do agrado da aniversariante o mesmo pode ser trocado por qualquer item disponível. Os brincos são o novo vale-CD, recurso muito utilizado nos amigos-secretos há alguns anos. Neste dia perdi a esperança de receber qualquer item realmente necessário como presente e comecei a cogitar fazer uma espécie de caixinha para colaboração financeira espontânea que seria colocada na saída da festa (com cadeado, claro, para que não fosse surrupiada pelos bêbados – bastam R$3,00 para comprar uma garrafa plástica de cachaça no boteco da esquina).

Para a minha surpresa este ano as coisas foram bem diferentes. Não sei se minha capacidade de persuasão melhorou substancialmente ou se resolveram satisfazer meus desejos para que eu parasse com essa minha mania de pedir coisas absurdas aos olhos dos demais. De qualquer forma fiquei muito feliz. Ganhei cafeteira, panelas, pratos e um fantástico jogo de chaves de fenda. Incrível! Acreditaram que eu realmente o queria! Obviamente também ganhei roupas e brincos (todos do meu agrado, aliás). Se houve algo especial? Sim, sempre tem algo mais especial. Algo feito com a intenção de me sacanear e denegrir minha imagem perante os demais. Algo que me obrigasse a explicações constrangedoras. Algo friamente pensado. Algo que com certeza ficará guardado para a posteridade. Uma toalha do Luan Santana.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Acasos

Ela: 30 e poucos anos, morena, 1,76m, corpo definido a duras penas ao longo de vários anos de academia. desfilava seu corpo escultural usando um maiô azul, com as longas madeixas presas num rabo de cavalo.

Ele: 40 e poucos anos, 1,70m, cabelos castanhos claros já com entradas nas laterais e barriguinha proeminente. Caminhava arrastando os chinelos havaianas pretos, usando uma sunga também preta apertada, salientando ainda mais a barriga de chope.

Ambos se dirigiam à piscina do clube. Melhor dizendo, uma se dirigiria realmente à piscina, o outro passaria reto por ela e se dirigiria à sauna. Mas antes que isso pudesse de fato acontecer, suas vidas se cruzaram por acaso na saída do vestiário.

Ele: Estufou o peito, puxou a barriga para dentro, tentou um sorriso, parou de arrastar os chinelos e subiu na balança, com cara de quem diz; "Preciso checar se a dieta tá fazendo efeito."

Ela: Seguiu seu caminho normalmente, assistiu a cena e pensou: "Ninguém merece... Fez tudo isso só prá me ver de costas..."

domingo, 8 de maio de 2011

Porque presto atenção nas propagandas...

Entrei na loja (uma loja popular muito conhecida e tipicamente localizada no piso térreo dos shoppings, servindo como porta de entrada - e obviamente também de saída - dos mesmos). Ainda não tinha dado sequer 10 passos quando fui abordada por uma daquelas moças de sorriso forçado, roupa chamativa e uma sacola cheia de folhetos e brindes. Neste caso ela tinha em mãos uma garrafa de água mineral.
"Boa tarde, eu posso te oferecer um presente?"
"Ãhn?!?"

Antes que mais algum som saísse da minha boca ela já começou a empurrar uma garrafa de água mineral com um folheto pendurado na direção das minhas mãos. Relutei para pegá-la e isso só piorou a situação (ela começou a tentar enfiar a garrafa no meio dos meus dedos).

"Na verdade quem está oferecendo este brinde é O Giorgio Armani..."

(Nossa! Será que passou pela cabeça dela que eu poderia ter pensado que era ela mesmo quem queria me dar aquele brinde???) Bom, nem pude pensar muita coisa porque ela continuou seu discurso e nestas horas é melhor não interromper. Elas decoram o texto e devem falar em sequência, senão perdem o fio da meada e recomeçam. E escutar tudo outra vez equivale a dar uma cabeçada na parede.

".... se você comprar um vidro deste perfume que como eu já falei é lançamento desta estação, você estará automaticamente contribuindo com 100 litros de água potável..."

(O Giorgio Armani me oferecendo um presente? Velho tarado! Tentando me conquistar com 310mL de água! Ah.. Devo estar confundindo... ela deve estar falando do Jorjarmani da Silva, o segurança do shopping. Sim, porque se fosse a grife, a companhia, a loja ou a casa de alta moda obrigatoriamente o artigo seria definido feminino singular, ou seja, A Giorgio Armani.)

"... e esta campanha está sendo realizada porque ainda existem vários países no mundo que ainda não tem acesso à água potável, por exemplo a África. E comprando este perfume *(nome) você poderá estar ajudando estas pessoas."

(Fiquei tão abismada com as dimensões continentais do país citado que nem tive forças para me irritar com o gerundismo insuportável da frase seguinte...)

Eu precisava sair dali. Já estava nervosa, com vontade de derrubar uma das araras em cima da mulher. Agradeci a água e fui me afastando, mas percebi algo diferente. Um cheiro estranho me perseguia. Assim que cheguei ao estacionamento olhei melhor para o "presente". Havia uma tirinha branca presa na tampa, um daqueles papéis em que se borrifa um pouco do perfume para sentir a fragância. Horrível! Um cheiro forte e insuportável. Rapidamente o arranquei e o joguei na lixeira mais próxima antes que minha enxaqueca começasse.

Deixei a garrafa em cima da minha mesa, mas ainda não tive coragem de abrí-la. Ali diz "água mineral". Nem toda água potável é mineral... Nem toda água mineral é potável... Se estão fazendo uma campanha de doação de água potável, não seria mais adequado mandá-la para a África ao invés de distribuí-la num shopping?

Prestei tanta atenção para identificar os erros e os duplos sentidos, que praticamente decorei o texto. Os erros só fazem sentido no contexto... e o contexto, neste caso, é a campanha, portanto a propaganda foi bem feita. Mas se não fossem os erros eu nem teria assunto ontem à noite...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A pior noite do ano

No ano passado minha cunhada ganhou uma cadela bagunceira e hiperativa. Foi impossível mantê-la no apartamento e ela acabou sendo trazida para a minha casa.

Amarela e com uma capa preta que lembra um pastor, orelhas grandes e pontudas, um focinho fino e olhos pedichões. Ela é assim! Um bicho feliz.

Morde tudo, pula, destroi e jamais obedece ordens ou chamados. Mas a gente se afeiçoa e acaba gostando tanto do bicho que acha graça de tudo que ele faz. Ela é carinhosa, faz festa, espera ansiosa um momento de desatenção para invadir a casa todas as manhãs e tem um jeito só dela de "deitar para receber cafuné". (Algo semelhante a um contorcionismo canino, jamais visto anteriormente por nenhum individuo do nosso círculo de amizades.)

Ontem, voltando do feriado, fui a primeira a chegar. Sempre chego em casa esperando os latidos, ganidos e demais sons, mas desta vez escutei apenas o latido grave dos dois "velhos". Eles me receberam como de praxe, com rabo abanando, mas logo percebi que algo estava errado. Chamei, assobiei e nada.

Entrei, mas apesar da festa feita pela gata que eu amo demais, fui direto ao telefone. Talvez meu irmão estivesse com ela. Não, não estava. Comecei a ficar nervosa, ele também, talvez ainda mais do que eu. Enquanto ele vinha prá cá comecei a procurar. Procuramos por todo pátio na esperança que estivesse machucada e com medo que estivesse morta, envenenada. Mas não havia nem sombra dela, nem de uma possível rota de fuga.

Conversando com um vizinho descobrimos que outro cão das redondezas havia sumido há algumas semanas. Gelei! Tinham roubado nossa Luna!!! Mas quem roubaria um vira-latas? Com que intenção? Ninguém com boa intenção rouba um cão do seu dono. Tentei dormir, mas foi impossível, cheguei a imaginar que ela pudesse ter sido usada em algum ritual macabro.

A Lu (minha gata) não parava de miar e arranhar a porta do meu quarto. Provavelmente ela também notou que algo estava errado e que todos estavam nervosos. Abri a porta e ela entrou correndo e subiu na cama. Foi a minha sorte! Com ela colada em mim consegui pegar no sono, torcendo para que, por milagre, a Luna reaparecesse pela manhã.

Acordei com um falatório embaixo da janela, morrendo de sono e com olheiras da noite mal dormida. Abri a janela assim mesmo para olhar e prá minha surpresa lá estava ela! Abanando o rabo! Feliz! Nosso vizinho a encontrou! Não sabemos como, mas ela conseguiu pular para o terreno do lado. A diabinha nem prá ganir indicando que tava viva! Eu não sabia nem como agradecer. O monstrinho estava ali de novo! Sã e salva!

sábado, 23 de abril de 2011

A confiança

          Sem aviso prévio me deparo com algo novo e desconhecido. Finjo sentir-me segura, embora uma parte de mim queira fugir. Quero enfrentar o perigo, mas encolho-me. À minha frente um abismo. Sinto minha cabeça rodar e instintivamente dou um passo atrás. Sinto dentro de mim cada órgão como se tivessem vida própria. Respiro com dificuldade. Ponho a mão direita sobre os olhos e inclino levemente a cabeça. Preciso me concentrar. Sei que sou mais forte que isso. Começo controlando a respiração e pouco a pouco meu corpo retorna ao nível basal. Agora sim posso enfrentar o desafio. Volto ao ponto inicial e analiso com mais frieza as possibilidades. Então compreendo que a única arma disponível é a confiança. Devo confiar que tudo pode dar certo. Confiar em quem me trouxe até aqui. Confiar em mim mesma, na minha capacidade. Percebo claramente o quanto é difícil confiar mesmo sem ter motivos para não fazê-lo. Me posiciono e fecho os olhos: a coragem para saltar é tão semelhante aquela necessária para confiar... Tomo minha decisão. Inclino o corpo e sinto o vento no rosto. Resolvo abrir os olhos, certa de me arrepender, mas surpreendentemente me dou conta de que não estou caindo e sim voando.

A incerteza

As cartas foram postas na mesa e o jogo teve início. Para alguns, basta aguardar o desenrolar das rodadas, para outros a incerteza da vitória torna a espera insuportável. Tento me manter no primeiro grupo, mas inconscientemente procuro nos olhos dos outros jogadores algo que denuncie seus planos.


Chega a minha vez. Compro uma carta da pilha e a coloco junto às outras. É necessário analisar todas as possibilidades antes de descartar aquela com menor possibilidade de vir a ser útil num futuro próximo. Mesmo após uma análise cuidadosa corre-se o risco de jogar no centro da mesa a carta errada.

E assim como as rodadas de um jogo de cartas seguem as incertezas da vida. Tão fáceis de solucionar quando não participamos diretamente delas, tão atrozes quando somos seus protagonistas. Envolvidos pela insegurança deixamos de sorrir mesmo quando quase tudo parece andar bem. Esquecemos o mundo e focalizamos a dúvida, fazendo dela, e só dela, nosso universo.

No dia seguinte, independentemente do sofrimento envolvido, a solução chega e nos desarma. Sem a dúvida não sabemos mais quem somos ou o que queremos e de repente percebemos que transformamos a dúvida no nosso combustível vital. Sem ela a vida não tem sentido exatamente no momento em que mais deveria ter.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

As chuvas da minha infância

Ah, o ensurdecedor som da chuva no telhado de zinco. Uma doce lembrança da infância, quando subíamos no sótão empoeirado para brincar nas férias de julho. Hoje o sótão está limpo e organizado e o telhado de zinco agora fica em cima de uma cobertura de madeira que abafa os ruídos. Minha mãe sem dúvida fez um ótimo trabalho por aqui. Os antigos estalidos e a camada de dois dedos de poeira deram lugar ao conforto de uma sala de jogos e a um museu com objetos pertencentes à casa desde a sua construção em 1898.


Ao menos uma coisa não mudou por aqui: as aranhas. Elas surgem entre os vãos dos tijolos, debaixo das almofadas, em cima dos móveis. É engraçado, geralmente quando se fala em infância as pessoas geralmente se lembram dos longos verões no litoral gaúcho, quando a água do mar parecia estar sempre na temperatura ideal para as brincadeiras. Eu não. Por algum motivo, lembro deste sótão, das caminhadas lomba acima até a ermida e dos fins de tarde na sacada da “casa mal-assombrada”.

Hoje subi aqui para me refugiar do mundo. Deitei e, olhando para a antiga TV a válvula e para alguns utensílios da antiga farmácia do meu bisavô, logo as lembranças se tornaram vivas dentro de mim. Alguém pode se perguntar como eu vim parar aqui. A resposta é fácil: o barulho da chuva me trouxe. Subi com munição suficiente para várias horas: nem computador, nem MP3, nem celular... Um livro. O Conde de Monte Christo - 1° volume – edição de 1936. Sim, português arcaico, mesmo para mim que aprendi o antigo português na escola. Mas e daí? Qual o problema de ler palavras como “delles”, “cincoenta”, “abbade” ou “comprehenção” se a história realmente vale a pena ser lida?

Vereadora: ser ou não ser?

Ultimamente venho analisando com carinho a possibilidade de me candidatar a vereadora. Seria o emprego ideal: eu ganharia bem, não faria nada e ainda me manteria longe da mira da imprensa, que lembra apenas dos deputados e senadores. Vereador seria o único cargo do gênero que me possibilitaria manter o anonimato. Quantas pessoas lembram em quem votaram para vereador nas úlitmas eleições? 10%? Não, deve ser menos que isso.

De qualquer forma, quantos votos são necessários para se eleger? Uns 500? É, deve ser no máximo isso. Só entre tios e primos já seriam no mínimo 50 pessoas. Se cada um deles arrumasse mais 10 pessoas (e ai daquele que não conseguir) e eu já estaria eleita! Nem é tão difícil achar 10 pessoas dispostas a digitar 5 números na urna eletrônica sem ter a menor noção de quem é o candidato em questão. Posso até colocar uma foto bem sexy no santinho e conseguir muitos votos...

Depois de eleita é só aproveitar o mandato, digo, o salário e aparecer de vez em quando na câmara prá não ficar chato. Trabalhar ali seria até útil: eu poderia caminhar no marinha, ver uma mostra cultural no gasômetro, me aposentar bem jovem... e nem precisaria dar grandes explicações sobre o salário. Quem manda aumentar o próprio salário são os deputados federais. O meu apenas aumentaria por tabela!

Daí um dia entrei no carro e escutei pelo rádio uma discussão prolixa sobre alguma coisa envolvendo cotas para mulheres na política. Se esse absurdo fosse aprovado (absurdo mesmo, porque não suporto a idéia de não poder competir de igual para igual com qualquer ser humano, apenas por ter nascido XX e não XY), bom, nesse caso eu estaria feita! Bastaria meia dúzia de votos para eu conseguir a vaga. Seria eleita não pela minha capacidade ou pela confiança das pessoas em mim, seria eleita por existir um número mínimo de mulheres garantido por lei.

Então resolvi perguntar a um amgo o que ele pensava a respeito e bastou eu dizer que não o colocaria como meu assessor para descobrir que não receberia seu voto. Tô mesmo com a moral muito baixa! Pelo visto continuarei dando duro e recebendo um salário que parece cada vez menor perto do preço das coisas básicas. No fim das contas, não adianta, gosto do que faço. Se eu mudasse de vida, poderia até ganhar mais, mas provavelmente não seria feliz.

Quinta-feira, Santa ou tiradentes, tanto faz

Saí de casa tranqüila. Feriadão, cidade vazia, maravilha... Ou não! Esqueci que nesses dias aqueles tios que nunca dirigem resolvem dar uma volta só para desenferrujar o motor e para saber se ainda são capazes de fazer o carro andar para frente.


Mal dobrei a esquina e já dei de cara com um deles: 30km/h, pisca alerta ligado, andando em zig zag. (Zig zag neste caso é uma tendência a deslocar-se para a esquerda toda vez que alguém tenta ultrapassá-lo, retornando à posição inicial após detectar a desistência da manobra ou a presença de veículos no sentido oposto.) Motorista zig zag é igual bêbado. Melhor não ultrapassar porque o risco de acidente é grande. Segui mais umas quatro quadras atrás dele, ainda sem entender porque o pisca alerta continuava ligado.

Foi então que passou por mim uma moto com o pneu traseiro afundado com o peso de dois “gordinhos” e a cena imediatamente me fez esquecer tanto do tio zig zag quanto do Chevette bege (originalmente parado uns 5 carros na minha frente) que começou a roncar assim que a sinaleira abriu e que ainda não tinha conseguido arrancar. Será que moto é como elevador e tem peso máximo suportável??? Deve ter... A cena dos parafusos da roda traseira saltando como num desenho animado passou ligeiro na minha frente e foi pensando nisso que cheguei ao meu primeiro destino: o shopping.

Estacionei na primeira vaga disponível e desci do carro diretamente para cima do salto. Peguei minha bolsa e coloquei os óculos escuros na cabeça. Minha postura altiva seguramente chamou a atenção dos homens ali presentes, mas definitivamente meu poder de sedução não faz parte deste relato.

Fui direto à praça de alimentação, parando apenas para dar uma olhadinha na coleção nova de uma loja de acessórios. Lindos... Mas a fome era maior e meu irmão também estava por ali (mera coincidência, mas almoçar acompanhada é sempre mais agradável). Começamos as buscas por uma mesa vazia e novamente obtive êxito com a técnica ninja. (Técnica que exige rapidez e muita habilidade e que consiste em jogar si mesmo ou um objeto pessoal sobre uma mesa, entre o tampo e as bandejas, no exato momento em que estão sendo retiradas pelas pessoas que se levantam.) Par ou ímpar para decidir quem vai primeiro comprar a comida e pronto: agora basta aguardar a minha vez.

Barriga cheia, mala no carro, um expresso duplo e bora prá estrada. Antes de sair da cidade ainda tive o prazer de encontrar um tio que gosta tanto de andar na linha que conduz seu veículo exatamente no meio das duas pistas, obstruindo a rua. Mas assim que entrei na BR-116 os caminhões me pareceram uma canção de ninar e pouco a pouco me acalmei, ao menos até Scharlau, onde começam os intermináveis pardais.

Hoje encontrei uma nova diversão! Contar pardais na estrada até Garibaldi. São doze ao todo, entre pardais e lombadas eletrônicas. Será que alguém pode me explicar porque existem tantos deles na mesma estrada? Será que se reproduzem e logo encontraremos pardaizinhos brincando felizes, correndo no acostamento? Pelo menos me diverti. Afinal, que graça teria subir a serra sem nenhum caminhão carregado andando a 20km/h e provocando aquela longa fila de automóveis?

Às 23:30h, deitada na mesma cama e no mesmo quarto onde minha avó dormia quando criança, desisti de dormir apesar do sono. A rave embaixo da minha janela pelo visto ia longe. Eu não estava a fim de dar uma de velha e chamar a polícia. Então peguei meu caderno (sim, sou antiquada a ponto de rabiscar rascunhos num caderno que obrigatoriamente permanece num local de fácil acesso: embaixo da cama ou dentro da bolsa). Mas voltando ao assunto: Então peguei meu caderno e, percebendo a total falta de inspiração causada pelas batidas da música, resolvi escrever sobre meu dia. No fim, nem me pareceu um texto tão ruim.

Karina

- Karina?


5 segundos depois: - Sim?

- Acorda! Tá pensando em que?

- Em quem...

- De novo?

- Difícil esquecer...

- Ele casou!

- Eu sei...

- E...

- Ainda o amo.

- Sai dessa!

- Fácil falar. Me apaixonei pelo homem errado, eu sei, mas ainda sofro ao vê-lo deixar a filha na escolinha.

- Já se passaram anos!!

- 5

- Cinco anos?!? Meu Deus, Karina, quem te olha acha que foi ontem que ele te deu aquele fora! Foi ele quem quis assim!

- Ele não teve opção.

- De novo a teoria da fofoca?

- Tenho certeza. O que o faria mudar da água pro vinho em horas?

- Sei lá... Esquece... Tem tantos homens disponíveis por aí...

- Ainda não conheci ninguém que valesse a pena.

- E aquele teu colega, o João Vicente? Parece que ele te faz tão bem...

- É, faz mesmo. Sempre me faz rir. Ele não é nem de longe o homem dos meus sonhos, mas confesso que gosto demais da companhia dele.

- E se não me engano sentiste falta dele esses tempos.

- É. Ele tinha viajado.

- Ora, ora, ora... Impressão minha ou esse coraçãozinho anda batendo por outro? Não acredito, amiga, como isso me faz feliz!

- Não sei o que sinto na verdade. Gosto da disponibilidade que ele tem para participar ao menos um pouco do meu dia-a-dia. Isso realmente me faz feliz.

- Disponibilidade?!?

- É... Ele me faz sentir como se estivesse o tempo todo comigo. Me faz ficar envergonhada, dar risada, me provoca e me tranqüiliza. Às vezes tenho vontade de beijá-lo na primeira oportunidade, mas nunca tive coragem de fazê-lo.

- Só porque ele não é bonito como o Fernando?

- Antes fosse... Não faço porque meus sentimentos estão confusos.

- Acho melhor fazer antes que a oportunidade se vá.

- Esse é outro problema, já foi.

- Como assim já foi???

- Ele tá namorando, me disse esses dias.

- Ai amiga! Te declara! Luta por ele!

- Não posso, Lu! Não quero que a história se repita e não vou lutar por algo que sequer tenho certeza.

- Karina?

- O que?

- Tu tá apaixonada?

- Não tô, não. Paixão é algo incontrolável.

- Karina, tu tá apaixonada.

- Será?

domingo, 10 de abril de 2011

O conselheiro

Caro conselheiro,

Há alguns anos minha amiga perdeu seu grande amor em um acidente de carro. Desde aquele dia, ela permaneceu sempre deprimida e não queria fazer mais nada até o momento em que conheceu um homem que a fez repensar a vida. Isto me faria muito feliz porque quis vê-la sorrindo novamente, mas a vida nunca é assim tão simples. Nós duas estamos apaixonadas pelo mesmo homem. Na verdade, descobrimos este “pequeno problema” no domingo passado. Nós estávamos passeando no parque e o vimos passeando com seus dois labradores amarelos. Foi ela quem o viu inicialmente e logo me falou: “Lembra do cara de quem te falei? Meu colega de trabalho, aquele novo na empresa? É aquele ali com os cachorros!”. Me virei entusiasmada para ver o responsável por tantas mudanças positivas na minha amiga, mas quando o vi me faltou ar e quase tive um infarto! Era ele! Meu parceiro nas aulas de dança de salão!!! Não tive coragem de falar nada em voz alta, mas ela percebeu que havia alguma coisa que eu sabia sobre ele e não queria falar. Esta é minha história e preciso de ajuda. Me diga, por favor, o que devo fazer???
Ass. Bailarina apaixonada

Cara Bailarina apaixonada,

Devo dizer que seu caso é bastante delicado e dificilmente será resolvido sem que hajam grandes perdas. Esconder esse fato de sua grande amiga só torna a situação ainda mais complicada. Apesar de ambas terem se interessado pelo mesmo homem, me parece que nenhuma de vocês realmente iniciou um relacionamento com ele. A amizade de vocês me parece verdadeira e seria muito triste vê-la acabar devido a uma frase não dita. Sua amiga deve estar preocupada com o que escondeste naquele dia. Seja franca e ela entenderá.

Ass. Conselheiro

Caro Conselheiro,

Não tive coragem de seguir seu conselho. Somos muito próximas e tenho plena consciência de tudo que ela sofreu. Não foi somente a perda do marido que ela amava, mas também uma série de problemas que parecia não ter fim. Gostaria muito que minha amiga fosse feliz, mas não acredito que a felicidade dela esteja ligada à minha desgraça! Dizes que nenhuma de voz de fato iniciou um relacionamento com ele e tens razão, porém todo meu esforço até conseguir dançar com ele não pode ter sido em vão! Ou achas que entrei na classe avançada de graça? Foram semanas seguindo-o até descobrir onde dançava, muitas aulas particulares, horas e horas de treino... Fiz tudo por ele. Não é tão simples, depois de quase um ano na luta, minha amiga resolve gostar do mesmo cara simplesmente porque ele mudou de emprego e por acaso caiu no mesmo setor dela?
Ass. Bailarina Apaixonada

Cara Bailarina,
Me surpreendi com as informações que recebi na tua última carta. Perseguição não é um sinal de amor, minha querida. Entendo seu sacrifício para ficar ao lado dele, mas depois de tanto tempo, ele já teria demonstrado algum interesse caso quisesse alguma coisa contigo. Talvez estejas com raiva por ter uma grande amiga como concorrente, sendo que não há concorrência se o produto oferecido não é do agrado do consumidor. O que está acontecendo? Medo que ele goste da tua amiga e não de ti? Pensa bem, talvez ele não goste de nenhuma das duas, mas o importante é que de alguma forma ele fez bem a sua amiga.
Ass. Conselheiro

Caro Conselheiro,
Como é que é??? O produto não agrada? Como ousas falar uma coisa dessas sem nem mesmo me conhecer? Enquanto minha amiga ficava deprimida, chorando pelos cantos, eu sempre chamei a atenção de todos os homens por onde andei. Ela que vá encontrar alguém do seu estilo, largado, gordo, sei lá... Mas essa história de roubar o meu homem de novo? Nem pensar! Ela já fez isso no colégio, ficou com o guri só porque sabia que eu estava a fim dele. Quem sabe tu fazes o trabalho para o qual está sendo pago e me dá logo algum conselho que preste?
Ass. Bailarina Indignada

Cara Bailarina,
Pelo visto me enganei profundamente ao acreditar que vocês duas eram amigas verdadeiras. Se continuas falando com ela deve ser porque ela tem algo muito “precioso” para te oferecer. Talvez um irmão mais velho que tu ainda não tenhas beijado, talvez uma casa de férias num lugar paradisíaco ou talvez ela seja tua amiga, enquanto tu não passas de uma tola invejosa. Se queres um conselho meu, presta atenção e repensa esse teu modo de ver o mundo, senão serás eternamente infeliz. Tenho dúvidas sobre teu real sentimento para com esse rapaz e não me surpreenderia saber que te “apaixonaste” à primeira vista ao vê-lo no parque por um mero sentimento engasgado de vingança desde o colegial.
Ass. Conselheiro

Caro Conselheiro,
Não acredito que gastei metade do meu salário contigo, enquanto ela continuava lá, como quem não quer nada, tomando cafezinho, almoçando junto, trocando mensagenzinha pelo Messenger. Sabe o que eu consegui? Consegui ver os dois jantando juntos ontem à noite!! Aquela fingida me paga... disse que não tinha nada com ele. O que será que ele viu nela, hein? Prá variar as coisas sempre dão errado comigo!! E desta vez foi tudo culpa tua!
Ass. Bailarina irritada

Cara Bailarina,
          Caso não queira que as coisas piorem ainda mais, favor depositar o valor de R$600,00, equivalente aos serviços prestados pelo site conselheiroonline.com
          Se não estiver satisfeita com nossos serviços favor entrar em contato com nosso SAC no número 0800 555 391 309 de segunda a sexta das 8 às 18 horas. O custo da ligação é de apenas R$0,95 por minuto. De acordo com as determinações da Anatel, nenhum cliente aguardará mais de 15 minutos para ser atendido e sua espera será acompanhada de lindas frases de auto-ajuda.
          Lembramos aos nossos clientes que o site não se responsabiliza por eventuais transtornos causados em suas vidas, sendo o destino das mesmas de sua total responsabilidade.
          Atenciosamente, o Conselheiro.

domingo, 20 de março de 2011

Pura e simples aleivosia

Uma verdadeiro absurdo!!!
Formação de quadrilha? - Calúnia!
Eu?!? Acusada de ser a mentora da turma?
Como assim?
Atirar pedras pela janela da casa do zelador?
Bater nas portas e sair correndo?
Chutar a bola direto na porta da garagem sabendo que tem gente dormindo dentro?
Tirar os pregos de fixação da lona da churrasqueira?
Entrar pingando no elevador recém limpo?
Dar apelidos para os moradores inconvenientes?
Puxar um fio imaginário na rua só para rir das pessoas freando?
Gastar caixas e caixas de estalinhos e bombas fedorentas?
Jogar bexiguinhas no terraço do primeiro andar?
Imagina!!
Eu jamais teria feito uma coisa dessas.... (hihihi)

Fui desmascarada... hahahahah
Eu: Admito, o grande sonho era colocar superbonder na fechadura.
O ex-síndico: Ah, é? De quem?
Eu: Do sapo... (glup)... do seu fulano, do apartamento 132.
O ex-síndico: Mas aquele merecia mesmo... deviam ter posto...
Eu: hahahah
Eu (em pensamento): Sério?!? Porque não me disseram isso há 20 anos?
Droga!!!! Perdi a oportunidade!

PS1: Não sabes o que é aleivosia? Espero que ao menos saibas o que é um dicionário.
PS2: Não! Não foi Jesus que falou com a "véia do reino de deus" naquela noite. Fui eu, pela janela do banheiro... hahahah. Mas ouvir ela dizer: "Ai meu Deus, ele falou comigo", definitivamente não tem preço!

Juliana

          “Mais uma noite de silêncio”. Esta foi a primeira frase que ouvi quando atendi aquele telefonema as 23:30h. Eu estava com sono, mas o apelo de uma amiga não deve ser ignorado. Juliana soluçava e eu já imaginava o motivo: há uma semana não recebia notícias do seu namorado.


          Nas últimas vezes que se falaram recebeu um balde de água fria. O que piorava tudo é que ela o havia encorajado a ir, quando todos ao redor impunham empecilhos.

          Primeiro disse que não sentia a sua falta. Juliana ficou arrasada, mas compreendeu que as novidades daquele curso no exterior o mantinham entretido demais, enquanto a vida dela seguia na rotina. Dois meses após avisou que permaneceria um mês a mais, a fim de conhecer melhor a região antes de retornar. Novamente ela concordou sem questionar, mas desde esse dia não recebeu mais telefonemas ou mails.

          Sentei e peguei uma folha de papel para rabiscar. Sabia que independente do que eu falasse aquela conversa iria longe. Do outro lado da linha ela desabafava. Dentro dela havia uma vontade imensa de fazê-lo sentir uma corda imaginária sufocando-o até o ponto em que o ar lhe faltasse da mesma forma com que sentia sua falta ao seu lado. Percebi as lágrimas que provavelmente estavam escorrendo e me senti inútil. Tentei sem sucesso encontrar uma solução.

          No seu quarto, Juliana permanecia deitada, embora quisesse com todas as forças correr para o aeroporto mais próximo e pegar o primeiro avião rumo a Madri. Sugeri que colocasse esse plano em funcionamento. Na manhã seguinte poderia comprar uma passagem para visitá-lo. Achei que poderia ser uma boa solução, mas ela citou tantas dificuldades que me questionei se ela queria realmente reduzir seu sofrimento. “Viajar sozinha tantas horas? E se ele estiver com outra ou não quiser me ver o que vou fazer? E se ele só estiver com dificuldade de acessar a internet?”

          “Somos mesmo diferentes” – ponderei. Não suportaria viver com tantas incertezas. Preferiria muito mais o sofrimento de descobrir a realidade e a partir daí tentar reconstruir minha vida. Não gosto da dúvida porque ela me corrói a mente e o corpo. Dizem que enquanto houver dúvida, existe esperança. Mas neste caso... Que esperança é essa?

          Juliana agora chorava compulsivamente. Acreditava piamente na teoria de um livro que havia lido. A força de seu pensamento teria sozinha a capacidade de trazê-lo volta apaixonado.

          Mesmo com o esforço de manter meus olhos abertos ainda consegui formular minha contra teoria: os pensamentos servem para fortalecer a vontade e induzir a ações concretas. Do que adianta querer e não fazer nada para conseguir?

          Estava pensando se dizia ou não essas palavras à minha amiga, mas percebi que suas lágrimas estavam cessando. Ter compartilhado seus medos e suas angústias havia sido suficiente para acalmá-la. Agora poderia dormir em paz. Voltaria a pensar nisso na noite seguinte caso ele não ligasse.

          Desligamos. Então descobri que o sono havia me abandonado. Eu sofria por ver minha amiga daquele jeito e tinha certeza que a paz não duraria 24 horas. Rolei de um lado para o outro por mais de meia hora sem encontrar posição para dormir ou solução para o problema. Lembrei o nome da escola onde Rafael estudava e olhei no relógio: muito cedo ainda. Coloquei o despertador para algumas horas mais tarde e consegui dormir.

          Na manhã seguinte liguei para a escola sem me preocupar com os custos de uma ligação DDI em horário comercial. Agradeci os 2 anos de espanhol que há muito tempo atrás minha mãe me obrigara a fazer e depois de agüentar uma música tão chata quanto aquelas utilizadas em algumas empresas por aqui consegui falar com ele.

          Expliquei o motivo da ligação. Ele riu. Estava cansado das manifestações diárias de ciúmes e de desespero da Juliana. Inicialmente ligava todo dia por saudades, mas escutava em troca acusações e lamentos. Decidiu não ligar mais. Precisava pensar se ela era realmente quem ele pensava.

          Aliviada desliguei o telefone e fui trabalhar. No caminho lembrei dos sábios conselhos da minha avó: “Antes de opinar, conheça os dois lados da história. Depois de conhecê-los fique quieta, pois nunca saberás ao certo quem está dizendo a verdade”.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

E se fosse um Atari

          Na minha infância existia um video game chamado Atari e nele jogávamos em fantásticos cenários monocromáticos. Lembro muito de um destes jogos em específico que consistia em atravessar um sapo de um lado a outro de uma avenida movimentada. Poderia ser apenas uma bela lembrança da infância mas, na realidade, trata-se da triste semelhança deste jogo com a área central de Porto Alegre. Seria até divertido se não fossem os seguintes fatos: as pessoas não tem 3 vidas e ser atropelado quase chegando ao destino não significa apenas voltar a fase anterior.

          Volta e meia me deparo com um daqueles que chamo de "frogs" (em analogia ao antológico jogo). Os frogs são intrépidos pedestres que atravessam a rua em etapas (uma faixa de cada vez) e aproveitam para mostrar sua destreza enquanto se equilibram na estreita faixa branca no meio dos carros em movimento. Ali permanecem bastante seguros de si, aguardando o momento certo de atravessar a faixa seguinte com razoável segurança até se encarapitar novamente na próxima linha. Acredito que na sua cabeça a linha branca funcione como uma espécie de ferrolho: "uma vez estando ali não pode ser pego".

          Nos horários de pico também são muito comuns os "relâmpagos": indivíduos que surgem do nada, correndo na frente dos carros sem jamais olhar para os lados antes de pisar no asfalto. Geralmente sua passagem é seguida por dois tipos de som: um "Ai meu Deus" e um "Desgraçado, vê se olha por onde anda" (ambos sujeitos a variações). Os relâmpagos mais ousados chegam a atropelar os carros que por acaso invadem a sua trajetória. São bem interessantes: se esborracham na lateral de uim carro, fazem uma cara assustada e ainda xingam o motorista.

          Existem muitas formas bastante interessantes e "seguras" de atravessar uma rua movimentada. Como  motorista uma das minhas preferidas é aquela em que o sujeito resolve atravessar bem na curva saindo detrás de um ônibus. A emoção é tão grande quanto os vejo que meu coração até se acelera.

          Outra bastante típica é aquela em diagonal, utilizada para reduzir distâncias num cruzamento. É preciso muita prática para executá-la no tempo perfeito: os 2 segundos entre o fechamento de uma sinaleira e a abertura da outra. Nesta modalidade, em geral eles acabam ziguezagueando entre os carros. Os motoristas tentam seguir em frente ou fazer a curva sem matar ninguém enquanto escutam impropérios irreprodutíveis.

          Para finalizar, de uns meses prá cá, graças a uma propaganda mal feita, houve o surgimento de uma nova espécie nas ruas. Trata-se de pessoas que enfiam a mão espalmada e menos de um segundo depois, olhando para o lado com uma cara feia, iniciam a travessia com o ar triunfante e cheio de razão. Obviamente o fazem longe das faixas de segurança ou embaixo das sinaleiras abertas para os carros, preferencialmente em locais onde uma freada brusca tem grandes chances de causar um acidente.

          Raramente encontro pessoas prudentes e educadas, que param no meio fio, olham para o lado,sinalizam com antecedência com a mão espalmada e aguardam pacientemente o momento de atravessar.  Para estes é com prazer que paro diante da faixa de segurança.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Homens-bomba

          Era uma manhã nublada de sábado quando resolvi acreditar na previsão do tempo. Passei protetor solar, coloquei brincos e óculos de sol combinando com o biquini e fui para a praia, acompanhada apenas do meu kit básico: canga, livro e dinheiro para comer queijo de coalho.
          Subi a duna e foi lá de cima que os vi. Eram uns 10, mais ou menos, mas não contei para ter certeza. Fiquei terrorizada ao enxergar aquelas longas túnicas e barretes, ornamentados por longas barbas escuras. Homens-bomba! Bem ali, embaixo da guarita. Pobre salva-vidas! Seria ele a primeira vítima?
          Ciente que a liberdade de expressão feminina não é benvinda naquela cultura e que a minha presença na praia ainda deserta poderia suscitar algum ato de violência, decidi me afastar. Passei no quiosque mais próximo e entreguei meus pertences a uma senhora que, como eu, olhava amedrontada naquela direção.
          Minha caminhada durou cerca de 90 minutos, não tendo ocorrido neste percurso nenhum evento digno de nota. Ao me reaproximar percebi que ainda estavam ali. A maioria ainda estava vestida da mesma forma, comendo com os olhos cada mulher que passava. Dois deles haviam tirado a túnica e exibiam dorsos de dar inveja ao Tony Ramos.
          Calculei minha rota e segui numa distância que acreditei ser segura. Nesta hora o sol já estava alto e com aquelas roupas eles deviam estar fedendo. Tive sorte, o vento não trouxe nenhum odor desagradável até mim.
          Enquanto a senhora do quiosque pegava as minhas coisas perguntei se algum deles já tinha explodido ou se estariam esperando a praia encher para terem mais vítimas. Ela riu e começou a me contar as pérolas ocorridas durante a minha ausência.
          Procurei um lugar para estender a canga, mas meus olhos insistiam em olhar naquela direção. Não sentia neste momento medo ou curiosidade, apenas uma raiva crescendo lentamente dentro de mim.
          Enquanto ele estavam lá se divertindo e constrangendo os outros veranistas, onde estariam as suas mulheres? Provavelmente enfurnadas num apartamento abafado, com as janelas fechadas e com o corpo coberto dos pés à cabeça, destilando com o calor. Pior é saber que muitas delas se submetem e aceitam esta situação. Nem todas, claro. Algumas lutam para estudar ou para ter liberdade, mas muitas delas acabam sendo mortas pela honra e pelas mãos justamente de quem deveria amá-las e protegê-las.
          Nos últimos 2000 anos todos os povos evoluiram e modificaram costumes e leis. Menos eles. Alguém sabe me dizer o porque?