Ultimamente venho analisando com carinho a possibilidade de me candidatar a vereadora. Seria o emprego ideal: eu ganharia bem, não faria nada e ainda me manteria longe da mira da imprensa, que lembra apenas dos deputados e senadores. Vereador seria o único cargo do gênero que me possibilitaria manter o anonimato. Quantas pessoas lembram em quem votaram para vereador nas úlitmas eleições? 10%? Não, deve ser menos que isso.
De qualquer forma, quantos votos são necessários para se eleger? Uns 500? É, deve ser no máximo isso. Só entre tios e primos já seriam no mínimo 50 pessoas. Se cada um deles arrumasse mais 10 pessoas (e ai daquele que não conseguir) e eu já estaria eleita! Nem é tão difícil achar 10 pessoas dispostas a digitar 5 números na urna eletrônica sem ter a menor noção de quem é o candidato em questão. Posso até colocar uma foto bem sexy no santinho e conseguir muitos votos...
Depois de eleita é só aproveitar o mandato, digo, o salário e aparecer de vez em quando na câmara prá não ficar chato. Trabalhar ali seria até útil: eu poderia caminhar no marinha, ver uma mostra cultural no gasômetro, me aposentar bem jovem... e nem precisaria dar grandes explicações sobre o salário. Quem manda aumentar o próprio salário são os deputados federais. O meu apenas aumentaria por tabela!
Daí um dia entrei no carro e escutei pelo rádio uma discussão prolixa sobre alguma coisa envolvendo cotas para mulheres na política. Se esse absurdo fosse aprovado (absurdo mesmo, porque não suporto a idéia de não poder competir de igual para igual com qualquer ser humano, apenas por ter nascido XX e não XY), bom, nesse caso eu estaria feita! Bastaria meia dúzia de votos para eu conseguir a vaga. Seria eleita não pela minha capacidade ou pela confiança das pessoas em mim, seria eleita por existir um número mínimo de mulheres garantido por lei.
Então resolvi perguntar a um amgo o que ele pensava a respeito e bastou eu dizer que não o colocaria como meu assessor para descobrir que não receberia seu voto. Tô mesmo com a moral muito baixa! Pelo visto continuarei dando duro e recebendo um salário que parece cada vez menor perto do preço das coisas básicas. No fim das contas, não adianta, gosto do que faço. Se eu mudasse de vida, poderia até ganhar mais, mas provavelmente não seria feliz.
Diálogo - arte no iPhone
Há 15 anos
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