Ah, o ensurdecedor som da chuva no telhado de zinco. Uma doce lembrança da infância, quando subíamos no sótão empoeirado para brincar nas férias de julho. Hoje o sótão está limpo e organizado e o telhado de zinco agora fica em cima de uma cobertura de madeira que abafa os ruídos. Minha mãe sem dúvida fez um ótimo trabalho por aqui. Os antigos estalidos e a camada de dois dedos de poeira deram lugar ao conforto de uma sala de jogos e a um museu com objetos pertencentes à casa desde a sua construção em 1898.
Ao menos uma coisa não mudou por aqui: as aranhas. Elas surgem entre os vãos dos tijolos, debaixo das almofadas, em cima dos móveis. É engraçado, geralmente quando se fala em infância as pessoas geralmente se lembram dos longos verões no litoral gaúcho, quando a água do mar parecia estar sempre na temperatura ideal para as brincadeiras. Eu não. Por algum motivo, lembro deste sótão, das caminhadas lomba acima até a ermida e dos fins de tarde na sacada da “casa mal-assombrada”.
Hoje subi aqui para me refugiar do mundo. Deitei e, olhando para a antiga TV a válvula e para alguns utensílios da antiga farmácia do meu bisavô, logo as lembranças se tornaram vivas dentro de mim. Alguém pode se perguntar como eu vim parar aqui. A resposta é fácil: o barulho da chuva me trouxe. Subi com munição suficiente para várias horas: nem computador, nem MP3, nem celular... Um livro. O Conde de Monte Christo - 1° volume – edição de 1936. Sim, português arcaico, mesmo para mim que aprendi o antigo português na escola. Mas e daí? Qual o problema de ler palavras como “delles”, “cincoenta”, “abbade” ou “comprehenção” se a história realmente vale a pena ser lida?
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Há 15 anos
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