domingo, 28 de fevereiro de 2010

À primeira vista

Intuição pura e simples, sem volteios, sem beleza, sem explicação. Poucas palavras foram trocadas, nenhum olhar, nenhum toque, nada. Tentei entender inutilmente que força invisível me atraía para alguém sem nada especial. Alguém demasiado comum para se destacar numa multidão. Alguém feio o suficiente para que eu o evitasse numa noite qualquer. Porém algo me proibia de me afastar. Ainda não compreendo o que aconteceu e tampouco o motivo que me leva a procurá-lo todos os dias. Sinto uma compulsão por comunicar-me e chego até a ver sua imagem com outros olhos. Gosto do seu jeito de falar e de sorrir com a mesma intensidade que repudio sua idade. Me encanta tua voz tanto quanto me aborrece sua imagem isenta de beleza. Busco um homem, e és apenas um menino. Às vezes me pego desejando um beijo sem ao menos acreditar que poderia tocá-lo durante uma dança.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A solidão

Poucos sabem como me sinto em dias como esse, quando tento sem sucesso conseguir uma companhia para ajudar a passar o tempo. Os minutos demoram, algumas vezes parecem infinitos. Até mesmo o travesseiro mais fofo fica desconfortável. Ando em círculos buscando algoma atividade para me entreter, mas tudo em minha volta parece desestimulante ou trabalhoso demais. Revejo a lista de contatos do meu celular pela terceira vez, esperançosa por encontrar algo diferente. Deito querendo massagem, mas não tenho ninguém que a faça. Adormeço ao lado do telefone com a ilusão de ouvir seu toque a qualquer momento. Durmo buscando sonhos, mas acordo com a dureza da realidade.

Cassandra e Pedro

          Norteada pelo desespero de ver o filho envolvido com uma prostituta qualquer, a mãe decidiu tomar medidas drásticas. Contabilizou suas economias e solicitou a uma moça que morava nas proximidades que se intrometesse na vida de seu filho e o tirasse daquela vadia. Em troca, receberia 500 reais. A moça tinha fama de namoradeira, gostava de se oferecer aos rapazes, fazia sucesso com suas curvas nas festas funk que frequentava.  Sem dúvida era a pessoa ideal para o serviço.

          Cassandra aceitou de imediato. Pedro nem era tão feio... Um pouco baixo, isso sim, mas de resto... realmente aquilo não seria um trabalho e sim lazer. Começou já na mesma tarde e não demorou muito para fazê-lo balançar. Dois meses se passaram e eles começaram a namorar. Pedro volta e meia a traia com a ex mas, firme em sua tarefa, fingia não perceber. Ao longo do tempo essas puladas de cerca foram se tornando cada vez mais raras. Pedro estava enfim se apaixonando por Cassandra.

          Final feliz? Poderia ter sido, se aquela senhora não chegasse à conclusão que havia pago Cassandra para fazer seu filho terminar um relacionamento e não para casar com ele. Baseada nisso, foi tirar satisfações com a moça que se defendeu, referindo que seus sentimentos eram reais. A discussão durou mais de meia hora e pouco a pouco as vozes foram ficando cada vez mais altas.

          O bate boca virou assunto no bairro e acabou chegando aos ouvidos dos irmãos de Tânia, que continuava tentando reconquistar Pedro. Nos botecos não se falava em outra coisa além do dinheiro recebido por Cassandra. Haviam esquecido o futebol e o dominó. Quando ficou sabendo de tudo, Pedro brigou com a mãe e casou com Tânia. Sua mãe sequer compareceu à cerimônia, jamais aceitaria aquela mulher. Mas Tânia mudou, virou dona de casa, esposa dedicada, tentou em vão conquistar a sogra que se manteve irredutível.

          Cassandra ficou realmente chateada, estava apaixonada, mas sabia que não havia retorno. Precisava seguir sua vida, conheceria outra pessoa que a faria feliz. No dia do casamento, desejou de coração que eles fossem felizes. Por mais defeitos que tivesse não era rancorosa. No fundo sabia que no lugar dele teria agido da mesma forma. Trabalho, cursinho, baile funk nas sextas. Sua vida seguiu sem novidades por mais 4 meses. Uma noite ao voltar para casa viu um movimento estranho na rua. Um grupo passou assustado, mas não comentou nada. Haviam assassinado Pedro. Cinco tiros: dois no peito, um na cabeça e dois nas pernas.

          Foi dormir sem saber o que havia ocorrido, mas acordou com batidas fortes na porta. A polícia estava ali para interrogá-la já que era uma das principais suspeitas. A mãe de Pedro insistia que só poderia ter sido aquela interesseira da Tânia, que havia destruido a sua família. Gritava que nunca tinha confiado naquela gente que enganara seu filho. Cassandra respondeu pacientemente as perguntas, tentando esquecer tudo que tinha ocorrido nos últimos 6 meses. Ela sempre tinha sido honesta. Com o álibi do trabalho logo foi liberada. Fechou a porta e se encostou nela suspirando: "Ao menos a viúva não sou eu."

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Meu primeiro amor

          Foi numa tarde nublada que ela chegou na nossa cidade. Trazia consigo uma mala pequena e o peso das lembranças de uma vida curta mas amargurada. Lembro bem da cena porque costumava brincar ali na praça com meus amigos. A cidade não tinha rodoviária e a praça da igreja era uma das muitas paradas daquele ônibus que percorria toda a região.

          Já estava acostumado a assistir aquela cena. Moradores que desciam e outros que chegavam apressados, carregando malas e abraçando familiares antes de partir. Ela foi a última a descer. Olhou para os lados diversas vezes, encontrou um banco e sentou. Não sabia para onde ir. Talvez tivesse descido no lugar errado. Fui ajudar. Me aproximei titubeante, com passos lentos e olhar temeroso. Queria perguntar o motivo que a levara até ali, seu nome, o que fazia, mas me limitei a ler um papel amarrotado que ela me estendeu. Havia um nome e um endereço.

          A observei enquanto explicava o caminho. Percebi seus olhos cheios de lágrimas, os detalhes do seu rosto e suas roupas surradas. Calculei que teria ao menos 10 anos a mais do que eu. Terminei a explicação e a segui com o olhar enquanto se afastava. Voltei para casa e começei a arrumar minhas coisas. Era meu último dia de férias e, no dia seguinte, eu voltaria para o colégio interno enquanto meus pais fariam a mudança para a capital. Aquela foi a primeira noite em que aquela mulher misteriosa povoou meus sonhos.

          Hoje, dois dias depois da minha formatura em direito, resolvi retornar à minha cidade natal com o único propósito de procurá-la. Não sabia sequer seu nome, mas tinha certeza que a reconheceria. Desembarquei na mesma praça às 14 horas, mesmo horário em que a havia visto chegar quando criança. Tudo me pareceu exatamente igual àqueles dias. Perdi alguns minutos olhando cenas cotidianas antes de me dirigir ao endereço que anos antes eu tinha lido naquela folha de papel e que ainda permanecia vívido na minha memória.

          Encontrei uma casa de madeira. As paredes de um verde apagado e as duas janelas já sem cor faziam contraste com o colorido das casas da vizinhança e me deram a impressão de abandono. Mesmo assim resolvi bater. Sem resposta. Bati de porta em porta buscando informações, mas todos repetiram a mesma história: "Aquela casa está abandonada há anos". Descrevi a moça, mas ninguém se recordava dela.

          Voltei para a praça e me sentei no mesmo banco onde tudo começou e ali permaneci um bom tempo. No fim da tarde uma menina loira de tranças se aproximou oferecendo ajuda. Olhei nos seus olhos e reconheci todos aqueles sentimentos que haviam tomado conta dos meus dias nos últimos anos. Agradeci e expliquei que estava ali de passagem, apenas para rever a cidade onde nasci. Conversamos até o ônibus chegar. Sentei no meu lugar e olhei pela janela a tempo de ver a menina vendo o ônibus se afastar. Suspirei: "Minha história terminou, mas a dela está apenas começando".

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Culpa do carnaval

O excesso de sons, imagens e cores do carnaval carioca saturou meu cérebro.

Meus neurônios estão em período refratário.

Desculpem o transtorno.

Cérebro em manutenção para melhor serví-los no futuro.


Mas vai dizer que não parece ser fogo mesmo???

Fotos da Unidos da Tijuca.

Fatos de Fotos

          Sempre tive a ilusão de que no passado as pessoas eram mais sérias. Ao menos esta é a imagem passada pelos retratos da época. Todos sisudos, com olhares incompreensíveis. Eu até questionava, mas por um tempo me convenci que este jeito descontraído atual seria devido à maior liberdade que temos hoje.
          Enquanto olhava os retratos da nossa família real em Petrópolis, achei uma gravura de um casal de costas, que intrigou toda a população da época. Quem seriam? Haviam hipóteses, mas nunca se soube ao certo.
          Hoje em dia tiramos fotos com óculos escuros, sinais obcenos, caretas e poses cômicas. Isto nos diverte e sou sempre a primeira a propor fotos não convencionais. Meus descendentes pensarão que fui uma louca? Problema deles, ao menos me diverti. Tenho pena dos antigos, retratados sempre em poses que nada diziam sobre suas personalidades. Ficaram para sempre pintados sem expressão. Nunca saberemos se foram felizes ou tristes, se se divertiam ou se achavam torturante a vida nada privada da corte.
          Talvez os olhos tristes reflitam o sofrimento dos casamentos arrumados para apaziguar conflitos internacionais ou a tristezas da perda dos filhos devido às doenças e às guerras. Ou talvez sejam apenas um detalhe criado pelo pintor que, vivendo na pobreza, decidiu mostrar o sentimento do povo refletido nos olhos dos seus líderes.

Il ragazzo della chat

La musica allegra invade la stanza. Sono lì, in piede, appoggiata alla parete, occhi attenti e faccia tesa. Sò che agli altri sembro più nervosa di quanto sia in realtà. Faccio attenzione all'atteggiamento di tutti, perchè non voglio sembrare anche fuori luogo. Penso di andarmene, però lo vedo. Vorrei fuggire ma non c'è più tempo. Non mi ricordo come mi hanno convinta ad accettare questo invito. Rivedo la foto che ho ricevuto per mail alcuni giorni prima. Sì, certo che è lui. Spero non mi abbia riconosciuto. Per un attimo questa idea mi sembra ottima, ma non ho ancora deciso se sarebbe una buona idea conoscere il ragazzo della chat. In fondo ho paura di scoprire una persona diversa. Ogni secondo rimasta qui da sola sarebbe usato per equilibrare le idee se non fossi interotta da lui: "Sei come la foto!". Sì, come potevo essere diversa? Ho soltanto questa faccia... Almeno lui sta cercando di essere divertente, invece di ripetere quella già famosa frase: viene che ti offro qualcosa da bere... Le sue mani cominciano ad accarezzare i miei capelli e questo mi da fastidio. Ovviamente non dovevo stare qua. Chiedo dov'è il bagno e me ne vado. Arrivo infastidita, ancora con il puzzo di alcol sul naso. Voglio ricordare di chi è stata quest'idea idiota di venire qui, ma non ci riesco. Adesso devo pensare come uscire senza essere vista. In ogni modo sono tutti ubriachi... e, se non lo voglio, che me ne frega se mi vede? Lavo le mani e esco dal bagno. La musica alta e quelle luci gialle attraversando la stanza buia mi fanno male. Mi sento nauseata anche se non ho bevuto niente. Comincio a cercare l'uscita. La gente balla freneticamente. Non vedo un gradino e cado ma per fortuna un uomo mi alza. È bruno, non troppo alto, coi capelli corti ben tagliati. Lui sorride. Mi viene da ringraziare e continuare la ricerca comunque non riesco a muovere i piedi. Le persone intorno a noi urlano e saltano come pazzi al ritmo della musica. Mi sento  dentro una gabbia e guardo disperata l'uomo che mi ha salvato. Forse lui ha capito perchè mi ha preso la mano e adesso comincia ad aprire spazio fra le persone. Ecco la porta! Nel silenzio della via mi sento molto meglio. Lui mi accompagna mentre cammino fino alla mia macchina. Parla poco, ma sembra osservare ogni dettaglio. Non so veramente il perchè, ma lui mi piace. Non è bello, ma che c'entra? Mi sento bene vicino  lui. Chiudo gli occhi e sento la sua voce, le sue parole... e comincio a rendermi conto di conoscerlo già. Ma com'è possibile? Trovo la foto dentro la borsa e la guardo una seconda volta. Lui percepisce. Faccio finta di niente, però lui dice:"Ho combiato le foto, questo è mio fratello.". Decido di non uccidere più le mie amiche.  Non è stata un'idea così stupida conoscere il ragazzo della chat. Adesso mi smetto di pensare ad alta voce, devo approfittare un pò... Se vuoi continuare questa storia, immaginala tu, perchè il mio racconto finisce qui.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pescando imprudentes

Não lembro de ter visto verão como este, com praias lotadas até o anoitecer, água quente e férias do nordestão. Porém, neste clima de festa, nem todos estão dispostos a agir com bom senso. É exatamente graças a estes inconsequentes que se torna possivel enxergar uma cena como a da criança que pisou em um anzol, próximo à plataforma de pesca de Tramandaí na semana passada.

As pessoas ao redor culpavam o pescador, mas sejamos coerentes. Os culpados pelo acidente são os pais desta criança, que a levaram para uma área reservada para a pesca e permitiram que ela brincasse livremente, enquanto pegavam sol e tomavam cerveja. As áreas próximas às plataformas de pesca são reservadas para este fim, sendo perigosas para banhistas e surfistas, que se aventuram em meio a redes e anzóis de forma imprudente.

Fui ensinada a respeitar estas áreas e gostaria de ter segurança nas áreas reservadas para banho. Infelizmente é cada vez mais comum ver homens e mulheres lançando seus anzóis à tarde em qualquer ponto da praia. Pior, os lançam entre as pessoas que se divertem despreocupadamente, aproveitando o mar para se refrescar. Frente a esta situação, os salva-vidas nada fazem. Muitas vezes até descem das suas guaritas, mas não para chamar a atenção destes incautos, e sim para conversar, aparentando esquecer momentaneamente da sua função. Também percebi que não existe fiscalização, ao menos não na minha praia: Tramandaí.

O fato das praias brasileiras serem públicas não dá o direito de cada um fazer o que bem entender. Um antigo ditado diz que a liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro.

Já cansei de escutar frases do tipo: o Brasil não tem solução. Deste jeito, não terá mesmo. Que futuro pode haver uma nação onde o povo não tem educação? Educação não é função do governo ou apenas da escola. Educação começa em casa e o bom exemplo da família tem valor inestimável. Dar limites e seguir normas instituidas para aumentar a segurança pode parecer pouco, mas sem dúvida torna o mundo melhor.

Publicado na Zero Hora do dia 12/O2/2O1O

A autoria e minha.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O melhor lugar para namorar

          Cheguei à conclusão que o meu bairro é o melhor lugar de Porto Alegre para namorar. E não é por questões de segurança, já que está sempre na lista dos 10 mais violentos do ano. Também não é pelo quesito limpeza, porque por aqui parece que o lema é: Jogue o lixo no lixo, que outro vem logo rasgar o saco e espalhar o conteúdo. Mas para namorar sem dúvida parece ser o lugar ideal.
          É o lugar dos sonhos para o menino tímido, que não sabe como se aproximar e *puff* falta luz e ele rouba o primeiro beijo. É perfeito também para o casal de namorados que está vendo um filme romântico e quando as coisas começam a dar certo entre os protagonistas *puff* falta luz e eles improvisam a cena ali mesmo no sofá. O que dizer então dos casais de meia idade que chegam em casa reclamando dos filhos, do trabalho, dos preços, do trânsito e no meio da discussão *puff* falta luz e, na falta da TV para decidir entre novela e futebol, resolvem fazer amor?
          Plagiando um amigo, vizinho e fonte de inspiração para este texto: "Moramos na capital mundial da falta de luz". Durante 2009 não conseguimos chegar à marca de 7 dias sem interrupções na rede elétrica. Ainda não se sabe os motivos exatos deste fenômeno. No verão existe a desculpa do excesso de energia gasta refrigerando os ambientes para torná-los habitáveis, mas no inverno? Cada chuva ou vento forte é uma falta de luz que levará horas para normalizar.
          Para os solteiros como eu restam poucas opções. Ler, no escuro não dá. O computador sempre apaga no meio da digitação de um texto, inevitavelmente antes que esteja salvo. Abrir a geladeira não pode, porque descongela. Talvez seja melhor mudar de bairro... ou comprar um saco de areia e uma luva de boxe para liberar a raiva e gastar energia enquanto se está preso dentro de casa sozinho e sem luz.

"Xixi? Aqui não, né?"

Título estranho, não é mesmo? Pois é... essa é a campanha da prefeitura do Rio. Cartazes informam que os indivíduos que forem pegos fazendo xixi na rua (com essa palavra mesmo, nada de usar o vocábulo urina) serão presos. Parece meio absurdo, mas pelo visto e pelo cheiro, milhares de pessoas são adeptas a esta prática.
As latas de lixo são poucas e vazias, enquanto dejetos de todos os tipos se acumulam nas sarjetas e nas praias. Ao menos nesse ponto ganhamos de longe dos cariocas! Nossas praias são muito mais limpas!!
Domingo de carnaval, 10 horas da manhã. A idéia de passear em Santa Teresa parecia um forma interessante de adiar a ida para a praia até depois das 15 horas. Aqui segue um relato das experiências sensitivas do centro do Rio neste dia.
"O cheiro de urina era enlouquecedor. Tornava-se impossível caminhar pelas ruas. A cinelândia estava um caos, na noite anterior a festa deve ter sido boa e naquele momento toneladas de lixo formavam montanhas nas esquinas. Outra quantidade semelhante ainda estava espalhada pela praça, esperando ser recolhida. Os vendedores de bebida e comida ainda estavam lá arrumando suas coisas e jogando o lixo fora (no chão, claro). O calor tornava o ambiente ainda mais nauseante. Volta e meia soprava um vento mas, ao invés de refrescar, trazia consigo um odor já conhecido: aquele citado previamente, de lixo e urina. Nas proximidades, centenas de bêbados ainda dormiam sob as marquises ou na grama."
Estas são imagens lamentáveis que eu gostaria de nunca ter visto. Mas depois disso tudo, compreendi a necessidade desta campanha. Espero não presenciar mais cenas como estas, nem aqui no Rio nem em nenhum outro lugar no mundo.
Parabéns aos garis desta cidade maravilhosa! Se não fossem eles (e milhares de litros de creolina) neste momento este lugar seria inabitável!

Rio de Janeiro 2 - lado lilás

O Rio será sempre o Rio, não importa quantas vezes se vá, não importa quanta paciência se tenha, porque esta será sempre posta à prova.
Os taxistas agem como se não conhecessem a cidade e fazem o taxímetro chegar a quantias exorbitantes enquanto fingem não saber exatamente onde é o hotel do cliente. Uma quantidade imensurável de vendedores ambulantes consegue encontrar fendas entre a multidão na praia (invisíveis aos meros mortais banhistas como eu) e oferecem todo tipo de produto, a preços nem sempre compatíveis com a qualidade.
E tem o lado bonito, o lado cartão postal, aquele pelo qual nos esquecemos de todos os problemas e acabamos retornando sempre que possivel. Desta vez a desculpa foi a dita maior festa do mundo, diretamente do seu templo: a Sapucaí.
Para conseguir os ingressos só mesmo via aquelas malditas agências turísticas, com seus pacotes. Ingresso, hotel, vôo, transfer e citytour. Tudo incluído! Turtismo empacotado, sem escolhas. Sempre reclamei deste turismo de janela de ônibus. Bom mesmo é caminhar, pegar ônibus, metrô, trem. Mas essa agência carioca se superou. O city tour consiste em ida e volta até o Corcovado (ingressos não incluídos!), associado a um longo passeio pelos mais diversos hotéis de Copacabana, para buscar outras 40 pessoas.
Incrível! Eles resumiram o Rio ao Corcovado!!!
Resolvemos abrir mão deste maravilhoso passeio e fomos de ônibus de linha mesmo para onde queríamos. E, só para constar, desta vez nenhum taxista nos passou para trás.

Em tempo: Enquanto eu digitava, um senhor (brasileiro) parou na portaria do hotel e começou a questionar quem, em sã consciência pagaria avião e um bom hotel, para chegar aqui e fazer um Favela tour?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Carnaval no Rio de Janeiro 1 - Lado Amarelo

Pensei, pensei, pensei... Resolvi começar pelo lado bom das coisas...
Estou aqui no Rio, vim passar o carnaval... sim é verdade, 13 anos depois de enfrentar Salvador, vim ver o que se passa nessa cidade em tempos de bagunça.
Verdade seja dita! A Sapucaí é contagiante, com rodas aquelas cores e o ritmo do samba. A TV não consegue sequer chegar perto do que é esse espetáculo!! Cheguei lá com a quele jeito de quem não está esperando muito. Achei de encontrar muvuca, confusão. Estava enganada, encontrei um evento organizado e seguro. As arquibancadas permitem uma boa visibilidade, bem de perto inclusive. Fiquei no setor 5, bem em frente ao camarote da brahma (pros desinformados: façam uma pausa nas suas vidas intelectuais e leiam a Caras).
Nove horas em ponto a coisa começou! Depois que o locutor informou que a União da Ilha (escola recentemente retornada do grupo de acesso ao principal) entraria em 4 minutos, o sambista da Escola começou a animar. Começou um "A união voltou! A união voltou! A união voltou!" e rapidamente toda a arquibancada estava de pé gritando junto! E assim começaram os desfiles que durariam até as 6:30 da manhã, quase sem pausa, diferente do que aparenta na TV.
Fantasias lindíssimas, criatividade sem fim, e, para minha sorte poucos nus. (Bom, tive o desprazer de ver um gordo seminu em um dos carros alogóricos da Imperatriz. Visão do inferno! Não dormirei por uma semana!)
Mas quem me contagiou, me embalou e me conquistou foi a Unidos da Tijuca. SENSACIONAL!!!
As mágicas da comissão de frente... Esquiadores fantasiados de batmam descendo uma rampa, homens aranha subindo. Um carro que "pegava fogo", com um efeito tão realista que não era possível imaginar que não fosse real até o momento que passou na minha frente. Nunca imaginei ver um show como esse.
Só vim hoje aqui para deixar registrado o refrão do samba enredo que cantei como se eu fosse Tijuca desde criança!
É SEGREDO... TODO MUNDO TEM
SOU TIJUCA... VOU MAIS ALÉM
O SEU OLHAR, VOU ILUDIR
A TENTAÇÃO É DESCOBRIR!!
Quando eu retornar a Porto Alegre coloco fotos, enlouqueci tirando fotos do desfile inteiro, tem umas 200, no mínimo. Mas nenhuma de mulher pelada, lamento! hahaha

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Questão de idade

Hoje eu estava falando com uma amiga. Mas não é uma amiga qualquer, é aquela amiga que todos gostariam de ter sempre próxima. Daquelas com quem não existe tempo ruim.
Ela estava preocupada, mas desta vez não era comigo. (Acho que já dei bastante trabalho prá ela este ano!) Era com uma outra amiga dela, uma pessoa linda, inteligente, querida e, pelo que eu me lembro, sempre alto astral. Seu problema? Depressão...
Como??? No início não entendi nada, mas quando fiquei sabendo o motivo eu não sabia se ria ou se xingava! Está deprê porque não quer fazer 30 anos! Pode?
Eu pensei... o que sobra prá mim que vou pros 32? Me matar? Pensei melhor... Os 30 já passaram mesmo e quanto a isso não há nada que eu possa fazer, me matar agora só aos 40, mas até lá eu desisto, me conheço. Então não me resta outra opção além de ver o que me sobrou de bom nessa vida.
Noooossssaaaa! Eu nem tinha me dado conta desta idade! Ainda me sinto tão jovem, forte, linda (e modesta, claro!). E essa minha amiga também é assim... e olha que ela fez 30 em 2009!
Fui me olhar no espelho atrás das rugas e sinais da idade.... nada! Tudo na mais santa paz. "Espelho, espelho meu! Existe no mundo alguma balzaquiana mais linda do que eu?" - Acho que vou mandar esse espelho puxa-saco de presente prá ela! Não preciso mais dele, já aceitei minha idade mesmo.
Pelo menos agora vejo alguma luz no fim do túnel na minha vida profissional. Sigo, mais forte do que nunca arraigada ao meu principio fundamental: QUALIDADE DE VIDA EM PRIMEIRO LUGAR! Sigo treinando aquilo que gosto e, se não dá tempo, treino qualquer coisa que me dê paz de espírito. Sigo me divertindo, dando risada e falando bobagem como sempre fiz.
Definitivamente os 30 até me fizeram bem!!!
De qualquer forma, a última informação que recebi é que a festa que não vai ocorrer. As bengalas estão caras, o corega tá em falta, porque nesse calor nem ele aguenta firme o dia todo e o padre se negou a sair de preto nesse sol prá fazer a extrema unção. Motivo de sobra prá não querer envelhecer assim tão precocemente, né?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Pés na cabeça

Sexta-feira, 24 de agosto. Depois de uma jornada exaustiva naquela editora, Carla desceu o elevador tentando se lembrar porque havia deixado seu outro emprego. Lá, ao menos, não precisava aturar gerentes estressadíssimos, prazos curtíssimos nem reuniões longuíssimas. “Ainda se o salário aqui fosse altíssimo...”.


O celular começou a vibrar na bolsa. Nova mensagem. Número desconhecido. Um convite. Mas quem? Outra vez a vibração. Uma chamada. Mesmo número. “Alô!”.

Uma voz algo rouca e bem masculina responde: “Alô, Carla? Aqui é o Jonathan. Te adicionei esses dias no facebook, trocamos uma idéia no messenger. Tá lembrada?”.

Poucas lembranças... Provavelmente pouco assunto em comum. Mas a foto sim estava bem presente na sua cabeça: moreno de olhos verdes, um corpo que a incitava pensamentos impublicáveis e um olhar que lhe causava calafrios. “Sim, lembro”.

“Então Carla! Estou saindo do trabalho, foi um dia cheio. Tava pensando de sair prá comer alguma coisa. Daí pensei: posso passar aí na tua casa e vamos jantar juntos”.

Sentindo-se salva do tédio, esqueceu imediatamente da regra número um: aquela que orienta conhecer a pessoa num lugar público e jamais dar seu endereço.

“Oito e meia, então! Combinado!” – E entrou no seu carro. A luz da reserva acendeu quase instantaneamente. Uma advertência? Talvez fosse, mas Carla nem cogitou essa possibilidade. Colocou 20 reais no posto de gasolina mais próximo e correu para casa, já pensando na roupa que colocaria. O interfone tocou com quase nada de atraso.

Um último retoque no batom e no cabelo antes de descer. Bolsa no ombro e lá se foi Carla rumo ao desconhecido, sem nem mesmo avisar alguém. Ao descer as escadas a primeira surpresa. Ao invés de um buquê de rosas, uma camisa xadrez rasgada.

Não foi preciso perguntar, os olhos dela diziam tudo e el percebeu. Foi rápido na explicação: “Desculpa, estou morrendo de vergonha, minha camisa prendeu numa porta quando eu estava saindo do trabalho. Tu super bonita e cheirosa e eu desse jeito... Vamos dar uma passada lá em casa só para eu trocar a camisa?”.

Carla estranhou, mas Jonathan parecia realmente estar sendo sincero. Pensando bem, ela também não se sentiria bem se estivesse com a roupa rasgada. E acidentes acontecem, não é verdade? E foi assim que ela esqueceu da segunda regra, aquela da prudência. Uma simples frase que orienta as mulheres a não entrarem no carro ou na casa de um desconhecido.

No carro a conversa seguiu animada. Ele contando detalhes da separação alguns meses antes. Interessadíssimo em qualquer assunto que Carla inventasse. Ela, por sua vez, estava impressionada com o fato dele ser pai de uma menina de seis anos. Claro que não poderia ter dado certo, se casaram aos dezessete anos, quando ela engravidou.

Carla foi indo, levada pelas conversas e por aquele olhar penetrante. Subiu no elevador e, sem se dar conta, entrou no apartamento. “Por favor” – disse Jonathan alcançando uma taça de vinho. “Vou tomar um banho rápido. Fica a vontade”.

Ela relaxou. Não estava acompanhada de um maluco. Ligou a televisão e começou a procurar algum programa interessante enquanto bebia aquele cálice de vinho. Alguns minutos depois Jonathan retornou de calça jeans e sem camisa, deixando à mostra aquelas curvas tão bem trabalhadas na academia. Sentou no sofá e começou a conversar. Conversa vai, conversa vem, roubou um beijo, e outro, e mais outro.

“Está quente aqui, não é mesmo?”. E tirou a calça jeans. Carla então se deu conta do quanto inocente tinha sido, mas foi capaz apenas de falar num tom firme. “Jonathan! Eu não vou transar contigo! Me deixa sair daqui!”.

Já era tarde para frear seus instintos. Jonathan segurou o pé dela com força e a imobilizou. Carla sentia o coração saltar dentro do peito e o desespero começou a tomar conta. Lembrou do spray de pimenta que tinha na bolsa, mas ela estava longe demais. Resgatou então dentro de si uma fé que jamais existiu e começou a rezar.

Dizem que Deus proteje os inocentes e talvez isso seja verdade. Jonathan era um tarado sim, e já havia aplicado este mesmo golpe com diversas outras mulheres. Mas para a sorte de todas, tudo o que ele queria, era se satisfazer sozinho, enquanto beijava e acariciava a coisa que mais lhe proporcionava prazer: os pés de uma linda mulher.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Minha praia... Minha visão periférica em noites de jogatina

Estou onde a água fria se encontra com a areia branca. Onde o vento sopra incessante, empurrando as dunas e provocando tempestades de areia. Estou onde as garças brancas pousam buscando alimento após vôos de longa distância. Onde barcos pesqueiros cruzam as águas de um mar revolto que tenta inutilmente invadir o rio que nele deságua. Estou onde o sol nasce em águas prateadas e à tardinha transforma seu caminho em um rastro de ouro. Estou onde meus passos deixam rastros que refletem as minhas tristezas... e elas são rapidamente levadas pela primeira onda do mar. Estou onde posso recriar as imagens da minha infância, recuperar energias e simplesmente respirar...

Coisas de Letícia...

Letícia amava Marcos... E como amava! Os amigos percebiam, mas ela negava; dizia que era amizade. Depois de tantos anos ali, lado a lado como colegas no setor de pessoal da empresa, foi preciso um choque para que Letícia percebesse seu sentimento.
Foi entre as pilhas de documentos em cima da sua mesa que viu o momento em que Renata se aproximou da mesa de Marcos, com seu corpo escultural e seu olhar sedutor. Letícia não conseguiu escutar a conversa, mas teve certeza: era um convite!
Subitamente sentiu raiva. Não podia acreditar que Marcos estava caindo nas garras daquela piranha. Afinal, eles eram amigos e ela conhecia bem sua preferência por mulheres cabeça. Seus olhos deveriam estar mentindo... Marcos sorria... Sem dúvida ele faltaria no happy hour da quinta feira. Talvez arrumasse desculpa até para o já clássico futebolzinho das quartas.
Sentiu um ímpeto de se jogar no pescoço de Renata, mas se controlou. Que direito tinha de se meter na vida do amigo? Retornou à realidade e pegou uma das folhas de cima da pilha da direita e começou a digitar no computador. Apertava as teclas cada vez com mais força e tentava em vão manter a concentração, até que o suor começou a escorrer pelo rosto.
Chega! – Pensou. Levantou-se decidida. Arrumou o cabelo e foi até a mesa de Marcos, que continuava com o olhar distante e parecia cantarolar baixinho uma música qualquer. Nem sequer cumprimentou e já foi desabafando:
“Eu não acredito que tu vais fazer uma coisa dessas! Aceitar o convite dessa vagabunda? Tu não entendes que...”.
“Mas Letícia! – Marcos tentou argumentar, mas ela não quis ouvir. Estava cega, não podia mais suportar a idéia de não poder mais vê-lo nos finais de semana. Antes que Marcos terminasse sua frase Letícia gritou: - “Não percebes que eu te amo?”.Seguiu-se o silêncio. O departamento inteiro parou de trabalhar e olhou naquela direção. Marcos olhava perplexo para Letícia... Nunca havia recebido uma promoção e uma declaração de amor no mesmo dia.