Sexta-feira, 24 de agosto. Depois de uma jornada exaustiva naquela editora, Carla desceu o elevador tentando se lembrar porque havia deixado seu outro emprego. Lá, ao menos, não precisava aturar gerentes estressadíssimos, prazos curtíssimos nem reuniões longuíssimas. “Ainda se o salário aqui fosse altíssimo...”.
O celular começou a vibrar na bolsa. Nova mensagem. Número desconhecido. Um convite. Mas quem? Outra vez a vibração. Uma chamada. Mesmo número. “Alô!”.
Uma voz algo rouca e bem masculina responde: “Alô, Carla? Aqui é o Jonathan. Te adicionei esses dias no facebook, trocamos uma idéia no messenger. Tá lembrada?”.
Poucas lembranças... Provavelmente pouco assunto em comum. Mas a foto sim estava bem presente na sua cabeça: moreno de olhos verdes, um corpo que a incitava pensamentos impublicáveis e um olhar que lhe causava calafrios. “Sim, lembro”.
“Então Carla! Estou saindo do trabalho, foi um dia cheio. Tava pensando de sair prá comer alguma coisa. Daí pensei: posso passar aí na tua casa e vamos jantar juntos”.
Sentindo-se salva do tédio, esqueceu imediatamente da regra número um: aquela que orienta conhecer a pessoa num lugar público e jamais dar seu endereço.
“Oito e meia, então! Combinado!” – E entrou no seu carro. A luz da reserva acendeu quase instantaneamente. Uma advertência? Talvez fosse, mas Carla nem cogitou essa possibilidade. Colocou 20 reais no posto de gasolina mais próximo e correu para casa, já pensando na roupa que colocaria. O interfone tocou com quase nada de atraso.
Um último retoque no batom e no cabelo antes de descer. Bolsa no ombro e lá se foi Carla rumo ao desconhecido, sem nem mesmo avisar alguém. Ao descer as escadas a primeira surpresa. Ao invés de um buquê de rosas, uma camisa xadrez rasgada.
Não foi preciso perguntar, os olhos dela diziam tudo e el percebeu. Foi rápido na explicação: “Desculpa, estou morrendo de vergonha, minha camisa prendeu numa porta quando eu estava saindo do trabalho. Tu super bonita e cheirosa e eu desse jeito... Vamos dar uma passada lá em casa só para eu trocar a camisa?”.
Carla estranhou, mas Jonathan parecia realmente estar sendo sincero. Pensando bem, ela também não se sentiria bem se estivesse com a roupa rasgada. E acidentes acontecem, não é verdade? E foi assim que ela esqueceu da segunda regra, aquela da prudência. Uma simples frase que orienta as mulheres a não entrarem no carro ou na casa de um desconhecido.
No carro a conversa seguiu animada. Ele contando detalhes da separação alguns meses antes. Interessadíssimo em qualquer assunto que Carla inventasse. Ela, por sua vez, estava impressionada com o fato dele ser pai de uma menina de seis anos. Claro que não poderia ter dado certo, se casaram aos dezessete anos, quando ela engravidou.
Carla foi indo, levada pelas conversas e por aquele olhar penetrante. Subiu no elevador e, sem se dar conta, entrou no apartamento. “Por favor” – disse Jonathan alcançando uma taça de vinho. “Vou tomar um banho rápido. Fica a vontade”.
Ela relaxou. Não estava acompanhada de um maluco. Ligou a televisão e começou a procurar algum programa interessante enquanto bebia aquele cálice de vinho. Alguns minutos depois Jonathan retornou de calça jeans e sem camisa, deixando à mostra aquelas curvas tão bem trabalhadas na academia. Sentou no sofá e começou a conversar. Conversa vai, conversa vem, roubou um beijo, e outro, e mais outro.
“Está quente aqui, não é mesmo?”. E tirou a calça jeans. Carla então se deu conta do quanto inocente tinha sido, mas foi capaz apenas de falar num tom firme. “Jonathan! Eu não vou transar contigo! Me deixa sair daqui!”.
Já era tarde para frear seus instintos. Jonathan segurou o pé dela com força e a imobilizou. Carla sentia o coração saltar dentro do peito e o desespero começou a tomar conta. Lembrou do spray de pimenta que tinha na bolsa, mas ela estava longe demais. Resgatou então dentro de si uma fé que jamais existiu e começou a rezar.
Dizem que Deus proteje os inocentes e talvez isso seja verdade. Jonathan era um tarado sim, e já havia aplicado este mesmo golpe com diversas outras mulheres. Mas para a sorte de todas, tudo o que ele queria, era se satisfazer sozinho, enquanto beijava e acariciava a coisa que mais lhe proporcionava prazer: os pés de uma linda mulher.