sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Cassandra e Pedro

          Norteada pelo desespero de ver o filho envolvido com uma prostituta qualquer, a mãe decidiu tomar medidas drásticas. Contabilizou suas economias e solicitou a uma moça que morava nas proximidades que se intrometesse na vida de seu filho e o tirasse daquela vadia. Em troca, receberia 500 reais. A moça tinha fama de namoradeira, gostava de se oferecer aos rapazes, fazia sucesso com suas curvas nas festas funk que frequentava.  Sem dúvida era a pessoa ideal para o serviço.

          Cassandra aceitou de imediato. Pedro nem era tão feio... Um pouco baixo, isso sim, mas de resto... realmente aquilo não seria um trabalho e sim lazer. Começou já na mesma tarde e não demorou muito para fazê-lo balançar. Dois meses se passaram e eles começaram a namorar. Pedro volta e meia a traia com a ex mas, firme em sua tarefa, fingia não perceber. Ao longo do tempo essas puladas de cerca foram se tornando cada vez mais raras. Pedro estava enfim se apaixonando por Cassandra.

          Final feliz? Poderia ter sido, se aquela senhora não chegasse à conclusão que havia pago Cassandra para fazer seu filho terminar um relacionamento e não para casar com ele. Baseada nisso, foi tirar satisfações com a moça que se defendeu, referindo que seus sentimentos eram reais. A discussão durou mais de meia hora e pouco a pouco as vozes foram ficando cada vez mais altas.

          O bate boca virou assunto no bairro e acabou chegando aos ouvidos dos irmãos de Tânia, que continuava tentando reconquistar Pedro. Nos botecos não se falava em outra coisa além do dinheiro recebido por Cassandra. Haviam esquecido o futebol e o dominó. Quando ficou sabendo de tudo, Pedro brigou com a mãe e casou com Tânia. Sua mãe sequer compareceu à cerimônia, jamais aceitaria aquela mulher. Mas Tânia mudou, virou dona de casa, esposa dedicada, tentou em vão conquistar a sogra que se manteve irredutível.

          Cassandra ficou realmente chateada, estava apaixonada, mas sabia que não havia retorno. Precisava seguir sua vida, conheceria outra pessoa que a faria feliz. No dia do casamento, desejou de coração que eles fossem felizes. Por mais defeitos que tivesse não era rancorosa. No fundo sabia que no lugar dele teria agido da mesma forma. Trabalho, cursinho, baile funk nas sextas. Sua vida seguiu sem novidades por mais 4 meses. Uma noite ao voltar para casa viu um movimento estranho na rua. Um grupo passou assustado, mas não comentou nada. Haviam assassinado Pedro. Cinco tiros: dois no peito, um na cabeça e dois nas pernas.

          Foi dormir sem saber o que havia ocorrido, mas acordou com batidas fortes na porta. A polícia estava ali para interrogá-la já que era uma das principais suspeitas. A mãe de Pedro insistia que só poderia ter sido aquela interesseira da Tânia, que havia destruido a sua família. Gritava que nunca tinha confiado naquela gente que enganara seu filho. Cassandra respondeu pacientemente as perguntas, tentando esquecer tudo que tinha ocorrido nos últimos 6 meses. Ela sempre tinha sido honesta. Com o álibi do trabalho logo foi liberada. Fechou a porta e se encostou nela suspirando: "Ao menos a viúva não sou eu."

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