Era uma manhã nublada de sábado quando resolvi acreditar na previsão do tempo. Passei protetor solar, coloquei brincos e óculos de sol combinando com o biquini e fui para a praia, acompanhada apenas do meu kit básico: canga, livro e dinheiro para comer queijo de coalho.
Subi a duna e foi lá de cima que os vi. Eram uns 10, mais ou menos, mas não contei para ter certeza. Fiquei terrorizada ao enxergar aquelas longas túnicas e barretes, ornamentados por longas barbas escuras. Homens-bomba! Bem ali, embaixo da guarita. Pobre salva-vidas! Seria ele a primeira vítima?
Ciente que a liberdade de expressão feminina não é benvinda naquela cultura e que a minha presença na praia ainda deserta poderia suscitar algum ato de violência, decidi me afastar. Passei no quiosque mais próximo e entreguei meus pertences a uma senhora que, como eu, olhava amedrontada naquela direção.
Minha caminhada durou cerca de 90 minutos, não tendo ocorrido neste percurso nenhum evento digno de nota. Ao me reaproximar percebi que ainda estavam ali. A maioria ainda estava vestida da mesma forma, comendo com os olhos cada mulher que passava. Dois deles haviam tirado a túnica e exibiam dorsos de dar inveja ao Tony Ramos.
Calculei minha rota e segui numa distância que acreditei ser segura. Nesta hora o sol já estava alto e com aquelas roupas eles deviam estar fedendo. Tive sorte, o vento não trouxe nenhum odor desagradável até mim.
Enquanto a senhora do quiosque pegava as minhas coisas perguntei se algum deles já tinha explodido ou se estariam esperando a praia encher para terem mais vítimas. Ela riu e começou a me contar as pérolas ocorridas durante a minha ausência.
Procurei um lugar para estender a canga, mas meus olhos insistiam em olhar naquela direção. Não sentia neste momento medo ou curiosidade, apenas uma raiva crescendo lentamente dentro de mim.
Enquanto ele estavam lá se divertindo e constrangendo os outros veranistas, onde estariam as suas mulheres? Provavelmente enfurnadas num apartamento abafado, com as janelas fechadas e com o corpo coberto dos pés à cabeça, destilando com o calor. Pior é saber que muitas delas se submetem e aceitam esta situação. Nem todas, claro. Algumas lutam para estudar ou para ter liberdade, mas muitas delas acabam sendo mortas pela honra e pelas mãos justamente de quem deveria amá-las e protegê-las.
Nos últimos 2000 anos todos os povos evoluiram e modificaram costumes e leis. Menos eles. Alguém sabe me dizer o porque?
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Há 15 anos
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