Foi no primeiro emprego que Marcele conheceu Fábio. Todos gostavam dele. Simpático, prestativo, trabalhador e, sem dúvida, apaixonado. Apaixonado por Marcele como nunca havia sido por ninguém. A única a não percebr era exatamente o objeto do seu desejo, que seguia poderosa entre os balcões do laboratório, muitas vezes sem nem mesmo olhar para os lados.
Fábio sofria calado. Não tinha coragem de se aproximar dela. As coisas pioraram ainda mais quando Marcele começou a sair com a Flávia, uma secretária belíssima cujo padrão de vida não correspondia ao salário que recebia. Foi Fábio quem as viu entrando numa danceteria chique após furarem uma longa fila. No dia seguinte contou às colegas o que vira e pediu que falassem com sua amada. Flávia não inspirava confiança. Presença constante nas festa da alta sociedade e sempre acompanhada de amigos ricos, não gozava de boa fama dentro da empresa. Todos questionavam a origem do dinheiro que sustentava tais festas e outros luxos.
As amigas bem que tentaram, mas a teimosia de Marcele falou mais alto. Teimosia ou ganância? Talvez nem ela soubesse neste momento qual era sua maior motivação. Acusou-as de invejosas. Sim. Tinahm inveja de verem as portas se abrindo para outra que não elas. Inveja dos presentes caros que havia ganho de um amigo da Flávia no seu aniversário. Inveja de não serem elas a furar filas e entrar de graça nas festas mais badaladas da cidade.
Preocupadas com o futuro da amiga decidiram continuar do seu lado e tentar aos poucos afastá-la desta má influência. Escutaram caladas às longas e contínuas narrativas das festas do fim de semana; Pouco a pouco tornou-se evidente que para ser escolhido o homem deveria ser alto, malhado e rico. Todas se olhavam e balançavam a cabeça. Nada poderia ser mais fútil.
Um dia Cristina aproveitou uma deixa para pedir um ingresso para uma destas danceterias famosas que ela tinha tanta vontade de conhecer. Haviam sido colegas no colégio e se reencontraram na empresa. Cristina era o oposto de Marcele. Baixa, com muitos quilos em excesso e um rosto comum, se destacava por uma personalidade forte e uma auto-estima inabalável. Uma combinação pitoresca que parecia agradar a gregos e troianos, pois ao contrário da bela Marcele, estava sempre rodeada de homens.
Marcele nunca falava, mas achava a amiga vulgar e seus pretendentes um bando de fracassados de péssimo nível. Mas ela era uma amiga de verdade e isso deveria ser suficiente. Naquele dia no entanto, Marcele não conseguiu segurar sua língua e acabou magoando a amiga. Olhou-a de cima a baixo antes de dizer que pobre não entrava e pronto.
Constrangida pela humiliação, Cristina virou as costas e se afastou. Assim como ela todos os outros se afastaram. Cada um tinha um motivo para evitar a companhia de Marcele, mas ela achava que a razão estava do lado dela.
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Há 15 anos
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