Percebo que estou na TPM quando saio de casa após 8 horas de um sono plenamente restaurador, vou ao shopping trocar uma blusa que ganhei de Natal e enquanto a vendedora tenta me convencer a levar uma roupa "super na moda" que me faz parecer uma mistura de gnomo com liquinho me dá uma vontade de dizer: "Olha, só porque tu és gorda e achas o máximo esconder teu corpo embaixo dessas coisas, não precisas achar que todo mundo também é assim. Graças a muita ginástica esse não é o meu caso e apesar de ser pelo menos 10 anos mais velha que tu ainda posso usar biquini e shortinho".
Diante deste sintoma incontestável de TPM, me esforço para manter a calma e antes mesmo de encontrar algo que me interessasse, saio da loja e vou direto para a praça de alimentação. Ao menos desta vez não existirá a dúvida: "chocolate ou sorvete" já que devem estar pelo menos 27 graus, a julgar pelo vestido já grudado na pele suada. Se aqui dentro está assim, imagina lá fora? O ar está quebrado ou estou na menopausa? Socorro.... vou derreter! Ô desgraça ficar em Porto Alegre no verão.
Aproveito a espera pela comida e dou uma olhada na lateral da sacola. Existe uma luz no fim do túnel: eles têm uma filial. Seria perfeito se eu não tivesse que atravessar toda a cidade. Olho no relógio e faço os cálculos, pensando o que tenho que fazer. Será que dá tempo de fazer tudo e ainda chegar a tempo para a academia? Não, impossível. Terei que abrir mão de alguma coisa. Do trânsito não dá, da academia eu me recuso. Ainda tenho que comprar um vestido pro ano novo. Haja dinheiro; já não bastasse IPVA, IPTU, anuidade do conselho, ainda tenho que comprar um vestido...
Resolvo sair do shopping e entro no meu carro. É só ligar o ar condicionado no máximo que meu humor começa a melhorar. Ligo o rádio e ao som de Black Eyed Peas começo a manobrar. A tranquilidade dura pouco. Na saída do estacionamento uma pajero me fecha e quase bate. Idiotas, compram carro grande e se acham os donos da rua.
Começo a sentir umas discretas pontadas na cabeça. Hmm, problema! Repasso com calma todo o meu dia e me certifico de haver tomado a dose adequada de cafeína. Sim, tudo certo... ou não. Se não é abstinência é enxaqueca mesmo... a dor logo vai piorar. Cadê o remédio? Remexo na bolsa com a mão direita à procura da cartela enquanto dirijo com a esquerda e escuto no rádio a porcentagem dos vôos atrasados. Tem gente pior que eu, ao menos não fui privada da minha liberdade de ir e vir. Nem quero imaginar o que seria de mim dentro de uma sala de embarque por mais de 12 horas sem ter o que fazer. Encontro um comprimido de novalgina e engulo com água quente mesmo. Uma sobra que deve estar aqui há dias.
Terceira perimetral, uma sinaleira a cada 200 metros. No rádio o assunto agora é outro. Falam do lindo dia de sol, da praia cheia, da cidade vazia. E o locutor ainda acrescenta: "Tá todo mundo de férias nesta semana". Todo mundo menos eu, a vendedora gorda e chata da loja e o cara da pajero! A idéia da praia lotada e a lembrança que meus pais também estão lá me irrita e decido que é melhor trocar de estação.
Pagode, outro pagode, rádio evangélica e isso o que é? Nossa, que música estranha! Enfim desligo o rádio e começo a cantarolar umas músicas do Jovanotti. Somente os pedaços que sei de cor, óbvio, porque esqueci de devolver o CD pro carro.
Ótimo! Ao menos a academia não está lotada, mas seria muito melhor se tivesse hidromassagem ao invés de natação. Coloco o maiô, tomo uma ducha gelada e entro na piscina. Enquanto nado, tento desesperadamente escolher a cor do vestido. Rosa ou branco? Porque será que nos outros 28 dias do mês consigo nadar sem pensar em nada e hoje isso me parece impossível?
Volto prá casa à noite com a impressão de que não dormi nada e me jogo em frente à televisão, nem tenho vontade de passar os canais porque já sei que não terá nada interessante neste horário. Ao menos tenho uma certeza.... amanhã é outro dia e com certeza não será como este... graças a Deus, isso só dura 24 horas.....
Diálogo - arte no iPhone
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