domingo, 4 de julho de 2010

Sobre quanto divertida pode se tornar uma viagem de avião

Cenas reais....

CENA 1
          Ao entrar no avião me deparei com uma senhora que lutava contra as leis da física enquanto tentava colocar uma mala gigantesca no compartimento acima da sua poltrona. Empurrava, socava, virava a mala e empurrava novamente. Imediatamente lembrei de um antigo professor (melhor não citar nomes) que dizia que hipertensão é o conteúdo maior que o continente. Baseada nesta teoria formulei o seguinte questionamento: caso ela fosse feliz em sua empreitada o resultado seria uma síndrome compartimental?

CENA 2
          "Brigada meu amor" foi o agradecimento a boa vontade da aeromoça ao explicar à passageira como encontrar sua poltrona no avião. Como se houvessem vários corredores diferentes onde os passageiros pudessem se perder.
          Discretamente olhei para trás entre o vão das poltronas (o fato de estar sentada na janela me permitiu algumas vantagens nesta hora) e avistei exatamente o que tinha imaginado ao escutar a voz e o sotaque: uma senhora baixinha e gorda (leia-se gorda!) com uma bolsa na mão que pelo seu volume deveria ter sido despachada.
          Havia entrado pela porta traseira da aeronave. Claro que não podia ser diferente. Sua poltrona era a 7C e ela precisaria cruzar (carregando a bolsa e no contra-fluxo) todo o corredor lotado. A aeromoça bem que sugeriu que ela descesse as escadas e embarcasse pela porta da frente, mas ela refutou esta possibilidade. Afinal, subir as escadas é exercício demais para aquele corpo.
          Nem preciso dizer: lá se foi ela, agradecida, se apoiando nos bancos e se equilibrando entre o povo até seu lugar. Será que foi porisso que o vôo atrasou? Vai que ela se perdeu no meio do caminho e saiu pela asa!

CENA 3
          Nem bem o avião decola e uma nova personagem surge para a minha diversão. Enquanto o avião sobe todos permanecem sentados com os cintos de segurança afivelados até soar o aviso. Bem, nem todos. Até porque se fosse assim meu diário de bordo não teria saido da primeira página onde lia-se: "Viagem à Chapada Diamantina - jun'10".
          As aeromoças conversavam animadamente no fundo do avião enquanto eu tentava preencher as palavras cruzadas com o livro sobre as pernas durante um período de turbulência. Exatamente neste ínterim surgiu uma jovem senhora caminhando pelo corredor em busca do banheiro. A aeromoça (provavelmente a mesma que auxiliou a senhora da história anterior) orientou que sentasse, mas ela parecia não compreender. Afinal, não queria sentar e sim ir ao banheiro.
          Existe realmente algum fascínio nos banheiros de avião. Incompreensível para alguns, como eu, mas aparentemente trata-se de uma paixão popular comparável ao futebol ou ao carnaval. Basta soar a liberação para que inicie a fila. Uma fila constante que só se reduz na hora do lanche e no momento do pouso. Um após o outro, grande parte dos passageiros faz sua peregrinação até lá. Alguns chegam a repetì-la duas ou três vezes.
          Não perdi meu tempo contando quantas vezes esta senhora percorreu o trajeto poltrona-banheiro, mas uma coisa eu garanto: ela foi a primeira a usá-lo.

CENA 4
          A diversão costuma durar pouco, mas pelo menos de vez em quando temos direito a um bis. O avião pousou em Salvador e todos se levantaram e invadiram o corredor. Ainda não entendi esse costume, já que sempre demora um tempão para a porta ser aberta. De qualquer forma levantar não serviria para nada, já que eu estava na fileira de número 29.
          Tudo estava tranquilo até uma voz feminina gritar lá da frente olhando para os fundos do avião: "Tem alguém aí atrás?" Claro que não vi quem foi, mas dentro de mim algo diz que deve ter sido a mesma senhora, aquela da poltrona 7C.
         

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