quinta-feira, 5 de setembro de 2019

No balanço

Estava frio e nublado, mas eu queria conhecer a cidade, então saí caminhando sem rumo até encontrar uma praça. Gostei dali. Sentei e comecei a observar a cidade, as pessoas, o movimento das folhas nas árvores.
Já estava lá há quase uma hora quando vi...
Sobretudo preto, mãos no bolso, rosto levemente inclinado para baixo, cabelos encaracolados e um cachecol displicentemente jogado ao redor do pescoço.
A passos lentos ele descia a escadaria de pedra onde as pombas terminavam de comer as migalhas deixadas pouco antes por um um grupo de adolescentes barulhentos. Já não se ouvia as vozes altas ou o barulho das embalagens sendo rasgadas. apenas o leve murmurar do vento gelado do inverno quebrava o silêncio.
Sentada num balanço, eu segui seus passos com os olhos, imaginando quem seria, o que fazia, para onde ia. Certamente ele achou que passava despercebido. Teria alguém em casa esperando por ele com uma sopa quentinha?
Comecei a me balançar e o rangido das correntes deve ter chamado a sua atenção. ele levantou a cabeça e por dois segundos me olhou. Virei o rosto. eu não queria abrir nenhum canal de comunicação. Quando voltei a olhar, ele já seguia seu rumo.
Levantei e retirei da mochila os pincéis e as tintas. Ajeitei a tela e comecei a pintar. Finalmente eu tinha encontrado inspiração para mais um quadro.

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