terça-feira, 3 de setembro de 2019

Total white

Recebi o convite da festa com uma única observação: "total white".
Conversei com outros convidados e entre todos paira uma dúvida: quem em sã consciência inventa isso?
Branco?
Como os homens devem se vestir? De dentista ou pai de santo? Ou quem sabe um terno branco com chapéu e samba no pé?
E nós, mulheres então?
Quantas mulheres têm corpo perfeito, coragem ou auto-estima suficiente para vestir branco dos pés à cabeça e entrar se achando linda?
Eu, por exemplo, a única coisa "total white" que usei nos últimos anos foi uma pasta de dente. Sou colorida, não gosto de branco. Não existe paz de espírito num ambiente branco. Não existe paz diante do espelho numa roupa branca.
Abri o armário e depois de muito mexer para lá e para cá, consegui encontrar dois vestidos.
Provei o primeiro.
Puxa daqui, puxa dali, nossa! Deve ter encolhido uns 2 números! Sério que eu usava isso? OK, entrou. Me olhei no espelho e logo percebi que o comprimento dele estava um tanto quanto provocante demais (para não usar outro termo). Os velhos vão gostar... mas os mais jovens irão me olhar com aquela cara de "Nossa, que pessoa sem noção! Devia se olhar no espelho antes de vestir algo assim!". Definitivamente, este não me favoreceu. Saiu do corpo direto para a sacola de doação.
Olhei então para o segundo modelo e rezei para que servisse. Seria um inferno ter que ir ao shopping comprar um vestido branco para usar uma única vez. Nem adianta tentar me convencer de usar branco no ano novo. Os árabes usam branco o tempo todo e são os primeiros a acabar com a paz no planeta. Prefiro usar amarelo, rosa, azul, roxo, verde, não importa, desde que eu tenha na mão uma taça de algum bom espumante brut.
Voltando ao vestido.
Eu nem estava querendo muito. Apenas um modelo que valorizasse minhas curvas, que escondesse as gordurinhas localizadas (aquelas que a sociedade insiste que eu não deveria ter, mas que não me incomodam porque não definem quem sou e muito menos me impedem ser ser feliz).
Só queria um vestido no qual eu me sinta poderosa. Um vestido com o qual eu possa dançar sem me preocupar com a revelação pública daquilo que me julgo no direito de mostrar apenas no privado. Um vestido com o qual eu possa sentar, cruzar e descruzar as pernas sem puxar insistentemente a bainha para além dos limites de expansibilidade do tecido.
Coloquei o vestido, serviu, fui capaz de me sentar. É o suficiente, vai esse mesmo. O resto fica por minha conta. Nada que um saltão, um sorriso e uma boa postura não resolvam. Entrarei linda na festa.

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