quarta-feira, 28 de abril de 2010

O fantástico mundo de Marcele (parte 1/6)

          Eram 9 horas quando Marcele chegou na porta do colégio onde cursava o terceio ano do ensino médio. Ajeitou sua bolsa Vitor Hugo no ombro e prendeu seus longos cabelos castanhos para trás usando seu óculos de sol Fendi. No braço esquerdo carregava alguns livros e um caderno. Apesar do atraso, entrou lentamente, desfilando no corredor vazio como se estivesse numa passarela até sua sala de aula.

          A professora de matemática a fitou, acusadora, mas Marcele fingiu não perceber e se dirigiu ao lugar onde costumava sentar. A aula prosseguiu, mas o pensamento de Marcele estava longe. Precisava com urgência ir até aquele centro de compras popular gastar a parca mesada em artigos falsificados, copiados das grifes mais famosas.

          Desde criança não aceitava o fato de ter nascido numa família pobre. Imaginava-se filha de um empresário rico ou de uma atriz famosa, morando numa mansão cinematográfica, brincando com bonecas caríssimas e vestindo apenas grifes de alta costura. Achava injusto a vida não ser assim, mas havia encontrado a solução ideal: se não podia mudar sua realidade, podia ao menos evitar que os outros a descobrissem.

          Aproveitou o intervalo para conversar com as colegas sobre um trabalho de grupo que não poderia mais ser realizado na sua casa. Há meses que as meninas pediam para conhecer a única das casas que ainda não conheciam: a de Marcele. Vindas de famílias não muito abastadas, imaginavam, a julgar pela forma de agir da colega, que morasse numa linda casa com muito conforto e empregados. Melhor que continuassem a pensar asim.

          Durante a aula seguinte ficou sonhando com um vestido fantástico que vira numa vitrine. Com ele sim poderia entrar numa festa só de gente rica e arrasar. Todos os homens cairiam aos seua pés e ela teria enfim a vida com que sonhava. Estava por concluir que aquele vestido era o passaporte para a felicidade quando lembrou da etiqueta: R$1899,00. Definitivamente, tinha nascido para ser infeliz.

          Uma das suas colegas bateu no seu ombro e a chamou para a realidade: o exercício valia nota e deveria ser entregue em 15 minutos. Marcele preencheu rapidamente as respostas e aproveitou para sair mais cedo da escola. Precisava ter certeza que não existia um vestido semelhante a um preço mais acessível. A formatura estava próxima e enquanto suas amigas pensavam apenas no vestibular e no primeiro emprego ela preocupava-se realmente com seu futuro. E seu futuro resumia-se apenas a encontrar um marido que a salvasse.

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