quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Sexta-feira

Era apenas uma reunião entre amigos.
Sexta-feira.
Saímos do trabalho e fomos direto ao barzinho.
No palco, um dueto tocava um pouco de tudo. Aos poucos todos foram indo embora. Menos nós.
Estávamos felizes mostrando nossos dotes artísticos, um tanto quanto exacerbados pelo álcool. Ríamos muito a cada passo em falso, a cada desequilíbrio.
Ele começou a me rodopiar. Rodei, rodei, rodei até quase cair. Foi quando ele me levantou que nossos lábios se tocaram.
Um passo atrás.
Silêncio.
Incredulidade.
Aline, desculpa! Eu sei que eu não devia... Eu...
- Tudo bem, eu disse - Olhando fundo nos olhos dele. - Não te preocupa.
- Não?!?
-Não Cléber. Posso te pedir uma coisa? Me dá um beijo de verdade?
Eu só queria lembrar para sempre daquele momento, queria saber que sabor teria aquele beijo. Eu sabia que não poderia ficar com ele. Mas era naquele momento ou nunca. Então continuei olhando nos olhos dele e esperando ele metabolizar o que eu havia dito.
Demorou até eu perceber seu rosto se aproximando. Senti um frio na barriga, seguido de um toque na nuca e lábios molhados encostando nos meus. E o beijo fluiu numa sintonia completa. Foi difícil parar. Superou minha expectativa.
Ficamos nos olhando sem saber muito bem o que dizer. Ambos sabiam como seria difícil encarar a segunda feira.
Melhor pagar a conta e ir para casa.
Foi impossível dormir. Passei a noite em claro revivendo aquele beijo me imaginando as mãos dele tocando meu corpo. Minuto após minuto lembrando dos sorrisos, das agradáveis conversas no trabalho.
Tentei me convencer de que eu não me apaixonaria.
Tentei me convencer de que as coisas continuariam como antes.
Tentei me convencer que eu continuaria tratando o Cleber como todos os demais funcionários.
Segunda-feira chegou e entrei na sala da diretoria disposta a colocar tudo em ordem. Eu havia deixado uma bagunça na minha mesa na sexta.
Na reunião com a equipe tudo ficou muito claro: o respeito e a admiração continuavam os mesmos, mas algo tinha mudado.
Eu podia notar o olhar de cumplicidade dele.
Eu precisava aprender a lidar com isso.
Eu precisava de uma pausa
de um café
de chocolate
de ar puro
de um beijo dele....

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